A vice-presidente da Associação Preservação do Cambuci e Vila Deodoro, Ana Cláudia Cavalcante, disse, nesta segunda-feira (26), que vai discutir com moradores quais providências tomar para evitar que a sede da Igreja Renascer em Cristo seja novamente construída na área onde ocorreu o desabamento no dia 18, na Zona Sul de São Paulo.

Naquela ocasião, o teto caiu, matando nove pessoas e ferindo mais de cem. A Polícia Civil apura as causas do acidente.

“A gente está tentado. Há dez anos que a gente está querendo que eles saiam. Ali é uma zona residencial e as pessoas que moram em volta sempre foram muito prejudicadas com o barulho e com a quantidade de gente circulando pela área. Esse desabamento agora foi a gota d’água”, afirmou Ana Cláudia.

A professora de 41 anos, que mora há 25 anos na vila ao lado do prédio da igreja, lembra que em 1998 o Ministério Público de São Paulo chegou a interditar o prédio da Renascer por falta de segurança, já que não havia alvará de funcionamento. O local ficou 15 dias fechado. A informação foi confirmada pelo Ministério Público de São Paulo. Desde essa época, os moradores pedem a saída da igreja. A vila em que Ana Cláudia mora, situada na Rua Robertson, 319, teve oito casas interditadas pela Defesa Civil por causa do desabamento.

Ana Cláudia acrescentou que, neste domingo (25), vários moradores da vila e do entorno do prédio deixaram suas casas por causa dos trabalhos de desabamento da parede da igreja que corria o risco de desabar. “Como é que as pessoas conseguem viver assim? Tendo que sair de casa por tudo. Não somos inimigos de ninguém, a única coisa que a gente quer é poder morar em paz.”

‘Portão ilegal’

Ainda segundo a vice-presidente da associação, a igreja teria também se apropriado de uma área comum da vila. No número 1, nos fundos do prédio da sede da Renascer, a igreja construiu uma garagem e fechou o local com um portão, o que não poderia ter sido feito. “O portão é irregular, o espaço é da vila e transformaram em uso particular do pastor”, disse, informando ainda que o Ministério Público e o Departamento de Controle do Uso de Imóveis (Contru) já solicitaram à igreja que a área seja restituída à coletividade.

“O local está inclusive coberto com telha de amianto, o que também é irregular”, acrescentou o vendedor Marassore Roberto Moregola, de 66 anos, que mora na vila há 45. De acordo com ele, só quem usava o portão para acessar à igreja eram Estevan e Sonia Hernandes, líderes e fundadores da Renascer.

A assessoria do Ministério Público informou que solicitou o fechamento da área do portão 1, o que foi feito pelo Contru no primeiro semestre de 2008. O MP informou que não sabe se a área pertence à vila, mas confirmou que o uso por parte da igreja é ilegal. Caso a Renascer esteja novamente usando o terreno, estará cometendo uma infração. A reportagem do G1 também entrou em contato com o Contru. O órgão informou que não irá mais se pronunciar sobre nenhum tema relacionado ao desabamento da igreja.

‘Leviandade’

Em nota, a assessoria da Renascer disse reconhecer a importância do trabalho executado pela associação, mas afirmou não poder, “principalmente em um momento tão grave e trágico como esse, considerar como séria a afirmação de que a associação estaria organizando uma mobilização contra a reconstrução do templo na Lins de Vasconcelos”. Segundo a assessoria, tal especulação não tem sentido, fundamento ou lógica e, caso seja verdadeira, “seria uma óbvia mostra de perseguição religiosa e leviandade“.

Sobre a instalação do portão e o fechamento da área de número 1 da vila, a assessoria informou que todas as providências na área para atender os pedidos dos moradores vizinhos já estão sendo tomadas. A Renascer também solicita, “mais uma vez, a colaboração dos vizinhos.”

Fonte: G1

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