Correspondências filtradas pelo WikiLeaks revelam que para os EUA, o Vaticano é um bom aliado, mas faz duras críticas sobretudo nos casos de abusos sexuais.

Os Estados Unidos consideram o Vaticano um bom aliado, mas também um Estado com poder fechado, provinciano e antiquado, com um sistema de comunicação repleto de “fracassos e lentidão”, sobretudo nos casos relacionados a abusos sexuais.

Assim relatam os diplomatas americanos em correspondências filtradas pelo WikiLeaks e citadas pelo jornal espanhol “El País”.

O jornal teve acesso a quase dez anos de telegramas de diplomatas americanos baseados no Vaticano. Nos mais antigos, os de 2001, os EUA relatam como a Santa Sé deixou claro quais eram suas preferências sobre o Iraque: “a ditadura laica de Saddam Hussein” seria mais favorável para os cristãos iraquianos que qualquer solução que “aquela guerra injusta” pudesse encontrar, “incluindo uma ditadura islâmica”.

Os telegramas de 2006 em diante passam a mostrar, segundo o “El País”, uma busca dos EUA para se aproximar do Vaticano e, a partir de então, uma série de queixas dos diplomatas americanos com o aparato que cerca o Papa.

O embaixador na Santa Sé, Miguel Humberto Diaz, enviado pelo presidente Barack Obama em 2009, e sua número dois, Julieta Valls, ambos católicos e de origem latina, mantêm relatos constantes sobre a crise gerada pelos escândalos de abuso sexual na Irlanda, mas dedicam também várias mensagens a criticar como o Vaticano trata esse problema.

Ante a ausência de informações, os emissários de Obama não titubeiam em tachar de provinciano o governo vaticano e em criticar a falta “de vozes dissidentes”. As críticas começam pelo secretario de Estado, Tarcisio Bertone, definido por Julieta Valls como um “Yes man” (só diz ‘sim’), sem qualquer experiência diplomática e que se preocupa mais com problemas espirituais do que com política externa.

Os diplomatas americanos dizem ainda que não são poucas as vozes dentro do Vaticano que pedem a saída de Bertone. E sobre o porta-voz Federico Lombardi, afirmam que “tem Blackberry, mas não tem acesso ao Papa”.

Apesar das queixas, Julieta Valls conclui um de seus relatos a Washington dizendo que “o Vaticano é um aliado formidável que precisa de aulas de relações públicas”. Segundo ela, a diferença entre a comunicação atual e a de João Paulo II, liderada pelo espanhol ultraconservador Joaquín Navarro Valls, é que hoje não há filtros das notícias como antigamente.

[b]Preocupação com Cuba
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Numa correspondência de janeiro de 2010 enviada pela Embaixada dos EUA na Santa Sé, os diplomatas americanos dizem ter ouvido que o Vaticano está muito preocupado com a “desastrosa situação econômica da ilha e a tensão política que pode gerar um banho de sangue”.

Durante uma reunião, Angelo Accatino, membro da Secretaria de Estado, explica a Julieta Valls a visão da Igreja. Afirma que é preciso “dialogar, por mais desagradável que seja”, e diz que o novo Fidel Castro não é Raúl, e sim Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

Desde que o governo Obama assumiu, o Vaticano redobrou os esforços para convencer Washington de relaxar o embargo que sustenta sobre Cuba.

[b]Fonte: Folha Online
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