Um dos crimes mais chocantes dos últimos anos em Minas Gerais, o assassinato da estudante Aline Silveira Soares, encontrada morta na madrugada de 14 de outubro de 2001 no Cemitério da Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, terá desfecho apenas em 1º de julho.

A juíza da Vara Criminal de Ouro Preto, Lúcia de Fátima Magalhães, adiou ontem o julgamento dos quatro suspeitos de executar a jovem durante um ritual macabro, que teria sido inspirado em um jogo de role playing game (RPG), segundo o Ministério Público (MP).

O julgamento de Camila Dolabella Silveira, 27 anos, prima de Aline; Cassiano Inácio Garcia, Maicon Fernandes Lopes e Edson Poloni Lobo de Aguiar, todos de 28 anos, estava marcado para as 12h de ontem, mas não pôde ocorrer porque os advogados dos jovens não compareceram à audiência.

A medida frustrou dezenas de amigos e familiares de Aline, que viajaram de Manhumirim, na Zona da Mata, terra natal da vítima, para acompanhar de perto o júri popular. Durante a saída dos acusados do Fórum, houve tumulto, e um irmão de Aline, Daniel Silveira Soares, 27 anos, foi preso por danificar o carro onde estava Cassiano Garcia.

Daniel foi liberado depois de assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), na Delegacia de Ouro Preto. Defensor de Cassiano e Edson, o advogado Guilherme Marinho enviou um representante ao Fórum para pedir o desmembramento do processo, sob a alegação de que a complexidade do caso exigiria mais tempo para a defesa dos réus. O advogado de Maicon Lopes, Luis Carlos Bento, também enviou representante para pedir o cancelamento.

Estratégia

A juíza explicou que o julgamento somente poderia ser adiado por ausência dos defensores, sem justificativa, uma única vez. Portanto, se não comparecerem na próxima sessão, os acusados serão defendidos por dois criminalistas da cidade. “A gente sabe que foi uma manobra estratégica.

Quero apenas entender por que a lei dá essa chance, faz todo mundo de bobo, inclusive a Justiça”, disse a mãe de Aline, a aposentada Maria José da Silveira Soares, 60 anos, que passou todo o julgamento na sala reservada às 35 testemunhas arroladas pelo MP e defesa dos réus.

“Todas as noites, tento entender exatamente o que aconteceu com minha filha. Ela está bem, mas eu não”, disse, segundos antes de cair em um choro convulsivo, sentada em um banco do Júri. “Que raiva! Que ódio!”, sussurrou, apertando os olhos.

Aline tinha 18 anos quando viajou a Ouro Preto, em 2001, para participar da Festa do Doze, com a prima Camila Dolabella. As duas se hospedaram na República Sonata, a convite de Cassiano, Maicon e Edson, moradores do local. Dois dias depois, o corpo da jovem foi encontrado no cemitério, despido, com os braços abertos e pés sobrepostos, apresentando 17 perfurações feitas com um instrumento cortante. Os cortes estavam espalhados por diversas partes, sendo o mais extenso no pescoço.

Desde o início, a polícia trabalhou com a suspeita de que a estudante teria sido morta em um ritual semelhante ao de magia negra, durante uma partida de RPG. Apesar dos suspeitos negarem envolvimento com o crime, a polícia encontrou livros e revistas de RPG e satanismo na República Sonata.

Os advogados de defesa dos jovens acusados da morte de Aline dizem que o MP produziu uma peça de ficção, sem provas contundentes. “Pessoas inocentes estão pagando por aquilo que não cometeram”, disse o policial civil aposentado Edson Lobo de Aguiar, pai do jovem Edson Poloni, um dos acusados.

Fonte: Diário de Pernambuco

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