O extremismo islâmico na Ásia Central e no Cáucaso irá aumentar ainda mais nos próximos anos, prevê o novo relatório de Anna Münster, bolsista do Programa Rússia e Eurásia na Chatham House, intitulado “Crescimento do extremismo islâmico na Ásia Central e no Cáucaso: situação e perspectivas”.

A futura retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão em 2014, bem como mudanças de regime esperadas no Cazaquistão e Uzbequistão, ameaçam desestabilizar a região, proporcionando aos radicais uma plataforma a partir da qual operar, destaca Anna Münster.

O relatório, escrito para a Classificação de países por perseguição, rastreia as raízes do islã — da Ásia Central e norte do Cáucaso ao Daguestão (uma república da Rússia) — durante o século 7I, embora, desde então, essa religião tenha tomado formas variadas em diferentes países.
O rito sunita do islamismo é o mais comumente seguido, mas Münster afirma que são as respostas individuais e coletivas dadas por certas facções do Islã que ditam como a religião se manifesta.

Grupos radicais como o Hizb ut-Tahrir e a Irmandade Muçulmana, assim como o “culto do martírio”, tornaram-se o “fator unificador e mobilizador “dos jovens muçulmanos, muitas vezes insatisfeitos com sua situação política e sócio-econômica”, ela enfatiza.

A ideia do crescimento do islã como uma resposta à desilusão é mencionada várias vezes, juntamente com a existência de solidariedade entre os muçulmanos dessa região, que se sentem vitimizados pelo Ocidente e acreditam sofrer uma “grande conspiração antimuçulmana”.

Este sentimento de solidariedade se perpetua, escreve Münster, por meio da guerra, tanto as guerras no Afeganistão e no Iraque como os conflitos na Chechênia e na Bósnia: “O avanço do islamismo político nessa região, durante o último quarto do século 20, é frequentemente descrito como uma resposta aos queixumes, desafios e conflitos locais”, escreve ela.

Münster prevê que a retirada das tropas dos EUA do Afeganistão terá um efeito desestabilizador em toda a região, assim como, enfatiza ela, o colapso da União Soviética desempenhou um importante papel no crescimento recente do islã e do extremismo islâmico.

A repressão aos muçulmanos por parte da União Soviética, a qual “fechou mesquitas e exilou ou matou clérigos”, bem como o surgimento dos novos Estados da Armênia, Geórgia e do Azerbaijão, entre outros, levaram ao “desenvolvimento de manifestações islâmicas locais sob influências estrangeiras”, afirma Münster.

Essas influências variam desde o pacifismo até a política, na medida em que várias organizações internacionais ganharam pontos de apoio na região. Países diferentes reagiram de forma diferente, diz Münster, de acordo com sua interpretação do islã, entre outras coisas, e conforme o grau de secularização que experimentaram durante a era soviética.

Considerando que várias potências mundiais disputam o acesso aos ricos recursos naturais da Ásia Central e do Cáucaso, Münster relata diversos exemplos recentes de corrupção e suborno.
Münster destaca o caso do Uzbequistão, talvez o mais notório, que ignora o abuso deliberado de direitos humanos por causa dos interesses escusos de governos ocidentais. Ali os islâmicos têm sido submetidos a brutalidades e tortura nas prisões, “inclusive aqueles que nunca se engajaram em ações violentas e foram [presos] simplesmente por possuir um folheto da Hizb ut-Tahrir”.

A tortura é muitas vezes “sistemática” e “profundamente perturbadora”, escreve ela, enquanto a “extensão do controle do governo sobre a vida, inclusive a escolha religiosa, é uma reminiscência de tempos soviéticos, ainda que o uso de novas tecnologias [de comunicação instantânea] e os acontecimentos da Primavera Árabe possam representar uma dura advertência aos governos repressores de hoje”.

[b]Fonte: Portas Abertas Internacional[/b]

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