Cresce número de alemães que trocam o cristianismo pelo islamismo. Casos de fanatismo religioso preocupam autoridades. Entidades muçulmanas advertem contra suspeita generalizada em relação aos convertidos.

Há alemães recém-convertidos ao islã que assumem a nova religião com tanto fervor a ponto de caírem na mira das autoridades de segurança e, por tabela, acabarem complicando a vida da comunidade muçulmana no país.

É o que mostra a discussão sobre leis antiterror mais rígidas, desencadeada após a prisão de três integrantes da organização Jihad Islâmica, na última terça-feira (05/09), em Oberschledorn, no oeste da Alemanha.

“A maioria dos convertidos quer mostrar aos muçulmanos natos que são especialmente religiosos”, diz Gerhard Isa Moldenhauer, que aderiu ao islamismo há mais de 25 anos e hoje integra a diretoria do Instituto Central do Arquivo Islâmico (ZIA) na Alemanha.

Na Alemanha vivem cerca de 3,3 milhões de muçulmanos. Segundo um levantamento feito pelo ZIA, deste total, 18 mil são alemães que se converteram ao Islã desde 1945. Nos anos que antecederam o 11 de setembro de 2001, havia uma média de 250 a 300 conversões por ano no país.

Em 2005, teriam sido cerca de mil; no ano passado, aproximadamente quatro mil – o maior número registrado desde 1920. Na avaliação do ZIA, cerca de 1% dos convertidos tendem ao fanatismo e à violência. As autoridades de segurança alemãs não confirmam esses números.

O ministro alemão do Interior, Wolfgang Schäuble, disse ao jornal Bild (de maior circulação no país) que, entre os que aderem ao islã, “há pessoas fanáticas, perigosas, com muita energia criminosa”. Segundo as autoridades de segurança, tais pessoas são extremamente difíceis de serem descobertas nas investigações antiterror.

Terroristas com passaporte alemão?

Dois dos três extremistas presos na Renânia do Norte-Vestfália, sob suspeita de planejar uma série de atentados a instalações norte-americanas, danceterias, bares e aeroportos no país, tinham se convertido ao islã depois de adultos. O terceiro é cidadão turco.

Não se trata dos primeiros suspeitos de terrorismo com passaporte alemão. Um alemão nascido em Duisburg, detido na França em 2003, era supostamente “homem de confiança” de Osama Bin Laden, líder da rede terrorista Al Qaeda.

Em meados de agosto passado, foi preso em Munique um alemão expulso do Afeganistão, sob a acusação de haver tentado convencer compatriotas a participar da “guerra santa”. Após as prisões desta semana, o secretário de Segurança Pública e governador designado da Baviera, Günther Beckstein, propôs que os convertidos, “em determinados casos, sejam vigiados”.

O Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha advertiu, porém, que não deve levantar uma suspeita generalizada contra os convertidos. Também as autoridades alemãs de segurança e peritos em islamismo fazem questão de dizer que a grande maioria dos que trocam o cristianismo pelo islã não tem qualquer ligação com o extremismo ou terrorismo.

Convertidos na Bundeswehr e na Otan

“As primeiras conversões de alemães ao islã foram de mulheres que se casaram com os chamados “trabalhadores convidados” (Gastarbeiter), que vieram para a Alemanha nos anos 1960. Hoje, muitas vezes são jovens em busca de uma moral superior ou que fogem dos desvios da moderna sociedade de consumo”, escreve Ursula Spuler-Stegemann, autora do livro Muçulmanos na Alemanha.

“O islã é atraente porque, em vez de complicados dogmas teológicos, oferece uma fé simples num Deus todo poderoso”, diz a pesquisadora. Segundo ela, há muçulmanos convertidos inclusive nos altos escalões das Forças Armadas Alemãs e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Salim Adbullah, diretor sênior do ZIA, criado em Berlim em 1927, explica que “o islã não conhece igreja nem papa, só a decisão individual. Fecha-se um acordo pessoal com Deus”.

Segundo ele, os convertidos que “escorregam” para o terrorismo não têm nada a ver com individualidade. “Eles se submetem ao esquema rígido de uma interpretação fundamentalista do Alcorão. São uma minoria insignificante, mas com grande potencial de radicalização. Odeiam a sociedade de origem e, para comprovar seu fervor religioso, tornam-se radicais islâmicos especialmente vulneráveis aos pregadores do ódio em mesquitas de fundo de quintal.”

Fonte: DW World

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