Em se tratando de eleições, toda ajuda é bem-vinda. Inclusive a divina. Pensando nisso, os candidatos à Prefeitura de São Paulo não poupam esforços para conquistar eleitores religiosos, independentemente da crença escolhida. No momento, evangélicos e católicos dividem as atenções dos prefeituráveis, mas há espaço também para muçulmanos, judeus, espíritas, budistas e adeptos das religiões afro-brasileiras.

Nesta quinta-feira, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), que tenta a reeleição, deve pedir a benção do padre Marcelo Rossi, em uma missa no Santuário do Terço Bizantino. Católico fervoroso, não é a primeira vez que Kassab pede uma forcinha aos céus. No início de agosto, ele e o adversário tucano, o ex-governador Geraldo Alckmin, participaram de uma missa na Catedral da Sé em comemoração aos 50 anos de sacerdócio de dom Cláudio Hummes, ex-cardeal-arcebispo de São Paulo e atual prefeito da Congregação para o Clero no Vaticano.

Segundo a assessoria de Kassab, o prefeito vai à missa sempre que pode, mas também tem buscado se encontrar com líderes religiosos de outras igrejas, como as evangélicas Assembléia de Deus e Adventista do Sétimo Dia.

O encontro com líderes religiosos e fiéis não é exclusividade do democrata. Outros candidatos também se dividem em agendas “sacras”. A ex-prefeita Marta Suplicy (PT), por exemplo, tem encontros semanais com membros de diversas religiões. De acordo com o deputado Simão Pedro (PT), responsável pela agenda da candidata, Marta busca sempre visitar algum padre ou pastor nos bairros em que faz campanha. “É uma forma de nos informarmos sobre os problemas da região”, explica.

Os encontros são uma forma também de diminuir a resistência que o eleitorado conservador possa ter em relação à petista. Isso porque Marta já declarou ser favorável à legalização do aborto e à união civil estável entre homossexuais, temas polêmicos entre os religiosos. “A prioridade da nossa agenda é dialogar com os setores para quebrar as resistências que possam existir. O encontro com os líderes abre um caminho para que os eleitores possam reavaliá-la”, diz Simão.

Apesar de a candidata ter sido vaiada ao discursar na Marcha para Jesus deste ano, o deputado não acredita que o fato reflita a percepção dos evangélicos em relação à ex-prefeita. “Foi um fato isolado, mas ela foi muito aplaudida na Assembléia de Deus”, conta. Hoje, a candidata deve se reunir com representantes da comunidade espírita da capital. Mas a petista já visitou a Mesquita Brasil, se reuniu com representantes da comunidade judaica e programa visitas aos líderes de religiões afro-brasileiras.

Fiéis

Os encontros com padres, bispos e pastores também são bem vistos pela campanha tucana. Segundo a assessoria de Alckmin, o candidato recebe cerca de seis convites para missas e cultos por semana, que tenta encaixar em sua agenda. Católico praticante, desde a época em que concorreu à Presidência, em 2006, o candidato vai à uma igreja diferente por semana assistir às missas.

Segundo a assessoria do tucano, a participação em cultos e os encontros com fiéis são boas oportunidades para conversar com diversas pessoas ao mesmo tempo, mas não chegam a ser estratégias de campanha. Segundo interlocutores, o tucano gosta de estar em contato com outras ideologias e outros pensamentos. Isso facilita porque reúne grandes grupos de pessoas, mas não é diferente do que reunir-se com pessoas de qualquer segmento.

A vereadora Soninha Francine (PPS), que também disputa a vaga na prefeitura, afirma que pretende incluir a discussão sobre a tolerância religiosa em sua campanha e projeto de governo. Budista, a apresentadora tem participado de encontros com líderes de diversas religiões, e conta que visitou pela primeira vez um terreiro de umbanda recentemente.

Sobre a possibilidade de transferência de votos, tanto Soninha quanto deputado Simão Pedro acreditam que os encontros entre candidatos e líderes religiosos ajudam a conquistar a confiança dos eleitores “Todos costumam pedir a indicação para alguém em quem confiam sobre em que candidato votar. E as lideranças, sejam elas religiosas ou não, também acabam desempenhando esse papel”, afirma Soninha.

Para o especialista Alberto Carlos Almeida, autor do livro “A Cabeça do Eleitor” (Editora Record), os encontros com líderes religiosos ajudam a influenciar os eleitores, na medida em que o candidato mostra que se importa com os interesses do seu eleitorado.

“Ao visitar uma igreja ou participar de um culto, por exemplo, você está valorizando uma parte importante da vida do eleitor. Mas o mesmo ocorre ao visitar o trabalho dele ou a região onde ele mora, ou seja, independe da questão religiosa”, analisa.

Segundo Almeida, um fato que chama a atenção, no entanto, é a rejeição que os eleitores católicos têm contra políticos que constroem sua carreira nas religiões evangélicas. “Não é que os católicos rejeitam os evangélicos, nada disso. Mas eles tendem a não votar nos candidatos que têm sua trajetória política muito atrelada a isso”, explica.

Fonte: Folha Online

Comentários