Quando eu era adolescente, ouvia meus pais falarem de como os crentes eram “frios” ou “exagerados”.
Por “frios” ele designavam aqueles que iam à “igreja” aos domingos, davam o dízimo, não faltavam às festas da comunidade, participavam intensamente das assembléias administrativas e de eleição de pastores — mas que, em contrapartida, não oravam em público, pois tinham vergonha; diziam que pouco ou nada liam a Bíblia; não davam testemunho da fé com a boca, e, menos ainda, com as atitudes; e, invariavelmente, davam grande valor o dinheiro, à profissão, aos estudos dos filhos, à aquisição módica, porém confortável de imóveis; e não negociavam as férias com nada. Sobretudo, jamais iam às reuniões de oração da “igreja”.
Esses eram os “frios”. E eram tão “frios” que nem mesmo davam importância às querelas eclesiásticas, como por exemplo, a neurastenia “Protestante” da década de 60 contra os “Renovados e Pentecostais”.
Já os “exagerados”, eram os “Renovados”, os quais haviam saído em meio a muita briga dentre as igrejas históricas, às vezes por exclusão em razão de falarem em “línguas” nas reuniões públicas de oração, ou por chamarem os irmãos para “um culto renovado”, na casa de algum deles.
Os Pentecostais, entretanto, pouco incomodavam; pois, não eram egressos das igrejas históricas; sendo o seu movimento apenas o resultado de ações missionárias estrangeiras, as quais chegavam para abrir algo novo, pregando diretamente aos não protestantes, embora tivessem nos católicos o seu maior publico alvo. Depois é que os cultos afro-ameríndios concederam aos Pentecostais as suas maiores baixas.
Ora, no caso dos “exagerados-renovados”, a dor de meus pais era que, embora eles cressem também na contemporaneidade de todos os dons espirituais, não aceitavam a chacrinha em meio à qual tais coisas aconteciam. Além disso, eles detestavam os legalismos de usos, costumes, e fanatismos diversos, manifestos em tais meios. Entretanto, ainda falando de meus pais, no que concernia aos “exagerados-pentecostais”, havia o lamento de que muitos pareciam sinceros, porém sem entendimento e sem equilíbrio metal e espiritual.
Meus pais se identificavam com gente como os reverendos Antônio Elias, Daniel Bonfim, David Glass, Ageu Pinto, Alcebíades Vasconcelos, entre outros. Respeitavam o DR. Acioly de Brito, Pr. Israel Guerra (a quem também amavam; mesmo nem sempre concordando com tudo); e, ainda no início da década de 70, muito se afeiçoaram ao reverendo Samuel Doctoriam.
Meu pai, entretanto, dizia que lamentava muito que o reverendo Nehemias Ma riem tivesse deixado a pureza a simplicidade devidos a Cristo. E dizia o mesmo de Rubem Alves e Jonas Resende. O mesmo eles também diziam dos que estavam no pólo teológico oposto da Igreja Presbiteriana do Brasil; gente como Buonerges Ribeiro, Paulo Breda, etc.
No que concernia ao Pastor e depois Bispo Roberto MacAlister (que é o pai histórico-espiritual de Macedo, R.R. Soares, Miguel Ângelo, entre outros), meu pai me dizia desde antes de eu me converter, quando ainda morávamos em Niterói, que eu sempre tivesse cuidado com ele. Ele o achava, mesmo pelo rádio, muito vaidoso. E mais: achava que ele gostava muito de dinheiro, de roupas caras, e tinha uma quedinha por “moveres” e outras modas.
Com relação ao Pastor Nilson Fanini, papai e mãe tinham sérias dúvidas se ele algum dia teria tido uma experiência real com Jesus, ou se fora apenas com a religião; pois, desde a década de 60, quando morávamos em Niterói, que eles recebiam pessoas que vinham de lá, do Fanini, reportando coisas, conluios, negócios, parcerias, e vaidades que faziam aquele pastor fazer negócio com qualquer um que o pusesse numa posição de poder, até e sobretudo, os militares. A história demonstrou que ele seria capaz de ter vínculos com Macedo e até com o Reverendo Moon. Tudo por poder e dinheiro.
Ora, falo do período entre 1960 e 1980. E já era assim. E muito mais…
Portanto, vi e ouvi deles muitas das coisas que me puseram no caminho da observação e do discernimento, especialmente porque eles eram pessoas puras e que se regozijavam sempre na verdade; e, portanto, o que diziam tinha apenas a ver com o Evangelho, e não com antipatias.
Entretanto,ainda era possível encontrar mais pastores bem intencionados ou, apesar da falta de entendimento e conhecimento da Palavra, sinceros com Jesus.
Já escrevi mais de uma vez aqui no site acerca das sementes das perversões que corromperam quase que por completo os “evangélicos”. Hoje, porém, minha intenção não é esta.
Naquele tempo ainda era possível ser Evangélico entre os “evangélicos”, pois, de fato, o fenômeno ainda era o da existência dos “evangélicos” (conforme são hoje) entre os Evangélicos, que eram ainda a maioria.
Hoje, todo genuíno Evangélico (conforme o Novo Testamento) e que não saiu da “igreja evangélica” — existe como um católico convertido ao Evangelho dentro da “igreja católica”. Em alguns lugares, em igrejas da prosperidade, da quebra de maldiçoes, dos movimentos apostólicos, e do pentecostalismo do bizarro — o Evangélico ainda lá presente, vive como um crente viveria dentro de um lugar de Candomblé, ou no meio de uma seita de Guru indiano que se locupleta da burrice pagã dos fanáticos americanos.
Todavia, há algo acontecendo. Sim! Nem tanto porque as pessoas estejam, pela Palavra, dando credito à verdade, mas, sobretudo, porque estão sendo espancadas pela verdade dentro de tais ambientes.
Assim, a cada dia tem ficha nova caindo na cabeça de milhares, não porque creram na verdade, mas porque já não conseguem mais crer na mentira. Portanto, tais pessoas (e são milhões aqui no Brasil), estão vazias, e, de algum modo, estão se tornando cínicas…
Em meio a isso tudo, há uma legião imensa de órfãos. Sim! Tipo os que em vida, e não depois da morte, realizam o fato de que seus pais não são quem eles julgavam que fossem. E, por tal razão, sentem-se órfãos.
É claro que todos os dias há incautos-desesperados entrando no engano, os quais, pela necessidade, se vão à Macumba, não têm porque resistir ao convite para enriquecer rápido num “Templo Lotérico Maior” qualquer… Bem como em suas agencias “Lotéricas” espalhadas por todo o país. Isso sem falar nas “Casas de Cambio” que aprenderam a fazer o mesmo tipo de jogo da Masmorra da Felicidade, e que os inventores do sistema praticam em maior escala.
Uma imensa horda de fiéis está deixando de ir às “igrejas”; e, enquanto isso, tomados pelo vazio ou pela descrença, dizem que são de Jesus, mas, cada vez mais, vão vivendo com raiva de “Deus”, pois, transferem o engano dos homens para a conta divina.
E, interiormente, com ou sem palavras, dizem: “Deus às favas! De que me adiantou? Só perdi tempo. Fui enganado!”
Assim, por tal decepção, há “evangélicos” em todos os grupos de swing, de suruba, de esquemas de lavagem de dinheiro, de exploração ilegal de madeira e do meio ambiente, de contravenções e de trapaças políticas; bem como tendo toda sorte de casos amorosos extraconjugais.
Hoje em dia tem “evangélico” se convertendo ao Budismo, ao Kardecismo, ao Candomblé, à magia negra, ao Vudú, etc.
Sim! Esses são aqueles que nunca se converteram ao Evangelho, embora tenham sido “evangélicos”, e que dizem para si mesmo: “Safadeza por safadeza, e mandinga por mandinga, aqui é melhor e mais barato; e mais sincero…”.
Você lê isto e fica alarmado. Mas se você recebesse milhares de cartas como aqui recebo, e que nem consigo responder e colar no site, você saberia que em mim não há exagero.
Os “Evangélicos” do Brasil estão para a antiga “Igreja Evangélica” (e que já não era grandes coisas!…) assim como os católicos do “Catolicismo Sincrético” estão para a “Igreja de Roma”.
Ora, se o contraste é assim já tão chocante em relação àquilo que não é Evangelho, e que é só uma fachada religiosa, e que é apenas um estelionato em relação a Jesus —, que não dizer dos subprodutos de tais coisas em relação ao Evangelho?
Ora, o abismo é maior ainda!
Sim! Se os Protestantes olham para o mundo “evangélico” e dizem: “É loucura e heresia!” — o que o Evangelho (o qual julga o Protestantismo uma iniciativa pífia e pedrada) tem a dizer de tais máfias e macumbas feitas em nome de Jesus?
Hoje o que possui a maioria decepcionada entre os “evangélicos” é algo como o “espírito de Laudiceia”, só que sendo vivido como uma “rebordosa”, como uma ressaca… — por terem visto a arrogância de Laudiceia ter dado lugar à exposição de sua nudez.
Portanto, o que antes era orgulho, altivez, arrogância, surto de superioridade e Síndrome de Lúcifer, agora se tornou em indiferença equivalente, em cinismo equivalente, e em mornidão incomparável.
O que vejo são pastores perdendo a paixão; e crentes abandonando o amor.
Ora, Paulo disse que se a “nossa esperança em Cristo se resume apenas a esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens”.
Veja: ele não falava dos homens, mas, entre eles, de “nós”, de “nossa esperança” feita religião sem transcendência, sem amor pelo eterno, sem alegria no invisível.
Portanto, o cenário existencial que Paulo pintava era o de cristãos sem esperança; ou, com a esperança confinada por algo como a teologia da prosperidade; a qual, não celebra a eternidade, mas apenas a temporalidade dos sucessos humanos mensuráveis pelas quantificações materiais.
Para Teologia da Prosperidade, ressurreição foi a de Jesus; e, hoje, ressurreição é de negócios. Afinal, se Jesus reina em Glória, em riqueza e glórias humanas devem reinar os seus discípulos.
É ensino de demônios!
O resultado disso é que a farsa está acabando (e não ficará pedra sobre pedra que não seja derrubada; e nem lavagem de grana que não venha a ser contada em público).
Entretanto, os discípulos desse Evangelho Plástico e David-Cooperfieldiano — estão perdidos e sem saber o que buscar. Por isto, muito estão voltando para os lugares de onde vieram. E muitos outros estão se tornando esquizóides evangélicos… Andando a esmo pela Internet; e vivendo em chats cheios de “evangélicos” desejos de soltar a franga…
O estrago que é feito em razão de que alguém faliu em algum de seus compromissos pessoais com a fé que ensina e promulga, por mais forte que seja, não empurra ninguém para fora da fé. Mas aquilo que é perversão sistêmica contra o espírito do Evangelho, e que se torna o ensino de um “outro evangelho”; evangelho do dinheiro, da insinceridade, e do abuso de poder — tem sim o poder de anestesiar a alma de milhões… E é o que aconteceu entre nós.
O resultado é esse que todos hoje podem ver!
Quem for filho da religião evangélica, esse ficará perdido em sem fé. Afinal, sua fé não é fé, mas apenas crença; e a relação que eles julgam terem tido com Deus, não era com Deus, mas com o “Deus-Igreja”. Ou seja: quase todo evangélico religioso tem uma relação institucional (que eles pensam ser espiritual) com a Virgem-Maria-Igreja. A Virgem Maria dos “evangélicos” é a “Igreja”.
Quem, todavia, for discípulo de Jesus, por mais chocado que fique com esse retrocesso “evangélico” à Idade das Trevas, não desanimará, e nem se tornará cínico; antes, não mais perderá tempo com o que já morreu, deixando que os mortos se ocupem de tal funeral; e, enquanto isto, olharão para cima, exultarão no Espírito, e sairão para pregar e viver o Evangelho; fazendo de todo banco um púlpito, de cada esquina uma Catedral, de cada mesa de alegria um encontro de Boas Novas, e de todo relacionamento humano uma chance de comunhão ou de anuncio bondoso da Graça de Deus.
Esta não é uma palavra de denuncia. As de denuncia abundam neste site. Esta, entretanto, é uma palavra de ânimo e de consolação.
Portanto, volte a ler os evangelhos e a meditar na Palavra. E não se esconda. Não precisa ser “evangélico” para ser do Evangelho. Ao contrário, do jeito que as coisas estão, a maioria dos que desejam ser do Evangelho precisam romper com os dogmas de morte e juízo proclamados por esses que profanaram o sangue da Nova Aliança, que pisaram sobre a Cruz de Cristo, e transformaram a pregação da fé em negócio.
Com carinho e reverência!
Nele, que é o mesmo ontem, hoje e eternamente,
Caio