“Pouco fogo, muita fumaça”: tragédia em Santa Maria

Não há nesse triste domingo, 27 de janeiro de 2013, como falar de outro assunto. Não há como mensurar o sofrimento de tantos familiares que perderam seus entes queridos, a maioria no fulgor da vida.

Não há como entender como mais de duzentas pessoas puderam morrer em um acidente tão evitável. Não há como não se revoltar com as diversas falhas cometidas, com o usual despreparo e descuido com a segurança pública. Não há como parar de martelar a mesma tecla, perguntando “como é possível algo assim ter acontecido”?

Ainda é cedo para uma analise mais detalhada; a perícia e os bombeiros ainda buscam por pistas que irão fornecer uma ideia melhor sobre o incêndio na boate Kiss, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Muita coisa ainda vai vir à tona. Mas, fica claro que algo de muito errado aconteceu.

Afinal de contas, como pode um inicio de fogo no isolamento acústico do teto da boate, em tão pouco tempo causar tantas mortes? Segundo o testemunho de sobreviventes, o fogo começou de forma tímida, sem grandes proporções, após o uso de um artefato pirotécnico por uma das bandas presentes. E mesmo o relato preliminar dos bombeiros atestou que a causa da morte da maioria das vitimas, foi a inalação de fumaça toxica e não o fogo propriamente dito. “pouco fogo, muita fumaça”, segundo relatos.

Ainda que tenhamos que aguardar o desenvolver das investigações, não podemos aceitar essa tragédia absurda como mera fatalidade; trata-se de mais uma das tragédias anunciadas a que estamos expostos no Brasil diariamente. A falta de infraestrutura básica na maioria dos prédios públicos, a fiscalização inadequada e ineficiente, a ganância de empresários que burlam as regulamentações para economizar migalhas, e principalmente a falta de educação e cidadania do nosso povo que aceita todas essas coisas calado e se expõe a perigos diariamente, como cordeiros no matadouro. Precisamos mudar esse quadro! Precisamos denunciar irregularidades com mais frequência e simplesmente não frequentar espaços públicos que não ofereçam a segurança devida. E incluo nisso, as igrejas evangélicas que nem sempre tomam as devidas precauções, nem sempre estão em dia com as normas de segurança.

Quase 240 mortos em um único evento é um número assustador, parece um dado de batalha de guerra civil. E sabendo que a maioria das vitimas tinha entre 16 e 20 anos, faz com que os números se tornem ainda mais absurdos, revoltantes. Relatos sobre superlotação, sobre o uso de pirotecnia em lugar fechado e sobre seguranças trancando a saída principal exigindo a comanda sem saber do que se passava, precisam ser investigados e devidamente apurados. Mas, culpados somos todos, por nossa complacência com o burlar das normas, pelo infame “jeitinho brasileiro”, por nossa indiferença com os políticos desonestos e inoperantes, por nossa falta de educação.

A tragédia de Santa Maria atinge a todos nós e envergonha um país que quer entrar no primeiro mundo, mas que está mais interessado em viabilizar grandes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, do que em sanar as mazelas estruturais de nossa sociedade.

Hoje não tem abraço.

Leon Neto

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