Transtorno Obsessivo-Compulsivo: uma comorbidade socioemocional decorrente da covid-19

Simbologia do sintoma neurótico

Comorbidade é a associação de duas ou mais doenças que aparecem de modo simultâneo no mesmo indivíduo, quando já  existe uma doença primária, e surgem doenças secundárias relacionadas.  Sendo assim, podemos mencionar a covid-19 como uma doença primária e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) como doença secundária.

Falar em Transtorno Obsessivo-Compulsivo como comorbidade socioemocional é afirmar que existe a partir disso um comprometimento das atividades sociais e emocionais. Por emocionais podemos compreender as funções psíquicas (sendo elas emocionais e cognitivas). Por cognição se entende: pensamento, percepção, decisão, inteligência, memória. O Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC) é facilmente diagnosticável pela própria pessoa.

No TOC estão presentes sentimentos como o medo de micróbios, ou contaminação pelos mesmos, ou ainda a necessidade de organização, rituais compulsivos e pensamentos recorrentes, invasivos, intrusivos, irracionais, e incompatíveis com a realidade vivenciada pela pessoa que apresenta o transtorno. Os pensamentos obsessivos negativos, são recorrentes e persistem a  ponto de levar a pessoa a perder o controle sobre os próprios pensamentos. A partir dos pensamentos obsessivos as pessoas são impulsionadas a realizarem compulsões.

Podemos compreender as compulsões como comportamentos repetitivos, realizados de maneira exaustiva, mas que têm como finalidade reduzir a aflição ou preveni-la, sendo assim, a pessoa sente que a partir disso, da realização das compulsões ela pode evitar que esses pensamentos que são ameaçadores se tornem realidade.

Em tempos de covid-19 temos repetido de forma exaustiva alguns rituais, como por exemplo lavar as mãos, roupas, sapatos, máscaras, desinfetar embalagens, e tudo isso é realizado com muito sofrimento.

Então, existe um pensamento obsessivo recorrente de contaminação pelo coronavírus. Em resposta a isso, executamos uma ação repetitiva de lavar as mãos, a essa ação damos o nome de compulsão.

Isso não quer dizer que as pessoas que hoje apresentam esse tipo de comportamento sejam obsessivas-compulsivas, sendo assim, tal comportamento nos dias atuais carece de um olhar mais sensível, e desta forma compreendermos um pouco sobre o o Transtorno Obsessivo-compulsivo é fundamental pois, hoje em tempos de pandemia podemos estar vivenciando apenas uma situação isolada, uma comorbidade, onde  é o fator desencadeante, funcionando como um “gatilho” para esse transtorno, que pode ser compreendido como algo comportamental, circunstancial, uma situação isolada desencadeada pela covid-19. Hoje não podemos dizer que seja irracional pensar de forma obsessiva em relação a ser contaminado pelo coronavírus, pois estamos vulneráveis a isso. Exceto se isso for feito com muita intensidade e sofrimento ao ponto de comprometer as atividades da vida diária e as relações de modo geral.

Helena Chiappetta

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Helena Chiappetta
Maria HELENA Barbosa CHIAPPETTA é Psicanalista Clínica pela ABRAPSI. É Psicóloga Clínica (CRP - 02/22041), é também Neuropsicóloga. É Avaliadora Datista CORETEPE (CRTP-1041). Tem Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional, e em Ciências da Religião; Licenciatura em Filosofia e em Pedagogia, além do Bacharelado em Teologia. É Bacharelanda em Psicanálise, Pós-graduanda no curso de Arteterapia, Pós-graduanda no curso de Psicanálise, Psicopatologia e Saúde Mental, Pós-graduanda em Terapia Familiar. Atualmente é Docente no SEID Nordeste e SEID Uberlândia. É Professora Convidada no Curso de Formação em Psicanálise da SNTPC. Tem experiência como docente de Hebraico Bíblico, Psicanálise e Teoria Analítica, Educação Religiosa, Artes, Teologia com ênfase em Ciências da Religião Aplicada e Liderança Institucional. Dedica-se ao estudo das neuroses atuais. É colunista deste Portal Folha Gospel. E-mail: [email protected] Instagram profissional: @h.chiappetta
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