Mensageiros seguram cédulas enquanto votam durante a Reunião Anual da Convenção Batista do Sul em Nova Orleans, Louisiana, realizada de 11 a 14 de junho de 2023. | Imprensa Batista
Mensageiros seguram cédulas enquanto votam durante a Reunião Anual da Convenção Batista do Sul em Nova Orleans, Louisiana, realizada de 11 a 14 de junho de 2023. | Imprensa Batista

A maior denominação protestante dos Estados Unidos, a Convenção Batista do Sul (SBC, sigla em inglês) decidiu a favor de uma medida que impede as mulheres de servirem como “pastoras de qualquer tipo”.

A proposta de emenda à Constituição da SBC, liderada pelo pastor Mike Law, da Igreja Batista de Arlington, na Virgínia, foi aprovada na última quarta-feira (14), após votação de mais de 12 mil mensageiros batistas presentes na reunião anual da denominação, que ocorreu em Nova Orleans.

O pastor Mike Law afirmou que não sente vergonha de 1 Timóteo 2.12 nem teme o que a Bíblia ensina. Segundo ele, a Declaração de Fé e Mensagem Batista 2000 da afirma que “o cargo de pastor é limitado a homens qualificados pelas Escrituras”.

A emenda proposta foi aprovada por aproximadamente 80% dos votos. A nova medida estabelece uma condição para que as igrejas se afiliem à SBC: nenhuma mulher no ministério pastoral. Vale salientar que para que a medida seja permanentemente incorporada à Constituição da Convenção Batista do Sul, ela deve ser aprovada também na reunião de 2024.

Exclusão de igrejas

A organização também votou para finalizar a expulsão de duas igrejas por terem pastoras, a Saddleback Church no sul da Califórnia, e a Fern Creek Baptist Church, em Louisville, Kentucky. A exclusão da Saddleback, fundada pelo pastor Rick Warren, foi confirmada por 9.437 votos (88,46%) a 1.212 votos (11,36%), com 19 cédulas anuladas.

O presidente do Seminário Teológico Batista do Sul, Al Mohler, alertou que a discussão sobre a ordenação de mulheres provoca divisão na denominação. Por isso, de acordo com ele, a proibição de pastoras foi incluída na Declaração de Fé e Mensagem da SBC.

“Não é apenas uma questão de política da igreja, não é apenas uma questão de hermenêutica. É uma questão de compromisso bíblico, um compromisso com as Escrituras que inequivocamente acreditamos limitar o ofício de pastor aos homens”, afirmou Mohler.

Ele ainda declarou que a exclusão da Saddleback Church acontece, porque a igreja não está em concordância com a Convenção. “O próprio Dr. Warren fez repetidas declarações e a igreja tomou repetidas ações que deixam muito claro que rejeita o entendimento confessional da Convenção Batista do Sul sobre esse assunto. Esta não é uma questão de mal-entendido”.

Em defesa das pastoras

Durante a Convenção Batista do Sul, anteriormente à votação, o pastor Rick Warren defendeu que mulheres sejam pastoras. Ao discursar para mais de 12.700 pessoas, ele argumentou que o pastorado feminino em sua igreja, a Saddleback Church, não é motivo para excluí-la da Convenção.

“Por 178 anos, a SBC tem tido pelo menos uma dúzia de tipos diferentes de batistas, se você acha que todo batista pensa como você, está enganado”, afirmou, acrescentando que os batistas do sul discordaram de diversas doutrinas, ao longo da história. “Por que essa questão deveria cancelar nossa irmandade?”, perguntou.

Warren salientou ainda: “Devemos remover igrejas por todos os tipos de pecados sexuais, pecados raciais, pecados financeiros, pecados de liderança, pecados que prejudicam o testemunho de nossa convenção. Mas as 1.129 igrejas com mulheres na equipe pastoral não pecaram”.

Segundo o líder religioso, é impossível que todos os membros e líderes da convenção concordem totalmente nas questões doutrinárias. “Se as divergências doutrinárias entre os batistas forem consideradas pecado, todos nós seremos expulsos. Você nunca conseguirá que 100% dos batistas concordem 100% em 100% de todas as doutrinas”.

Batistas no Brasil

No Brasil, a Ordem dos Pastores Batistas tomou a seguinte decisão: as convenções estaduais que decidem a respeito da ordenação ou não de pastoras. Assim, nas localidades permitidas, a consagração é da competência da igreja local, que reporta a decisão à convenção. No entanto, se uma igreja consagra uma pastora sendo ligada a uma convenção que não permite, ela pode ser expulsa.

“Temos muitos grupos que aceitam a ordenação de mulheres ao ministério pastoral, como na Paraíba e no Rio de Janeiro, e outros radicalmente contra, como São Paulo e Bahia”, diz o pastor Celso Godoy, da Primeira Igreja Batista em Medeiros Neto (BA).

Ele afirma que, apesar de ser favorável, é submetido à orientação da convenção. “Aqui na Bahia, eu não consagraria, porque estaria desrespeitando a recomendação da minha convenção”, pontua. No entanto, o líder religioso admite que, se estivesse em outro estado em que a convenção aceitasse pastoras, provavelmente consagraria se ela tivesse todas as características para a ordenação pastoral.

Segundo o pastor Celso, o principal argumento utilizado pelos que são contrários é o fato de não estar escrito na Bíblia que a mulher pode ser pastora. “Só que também não está escrito que é vetado à mulher o ministério pastoral. Na Palavra de Deus não está escrito que a mulher pode ser musicista, mas ela é. Também não diz que pode ser educadora cristã, e é”.

O líder religioso salienta que as Sagradas Escrituras destacam que as mulheres devem ficar caladas na igreja e sem frequentar escola bíblica. Isto porque elas devem aprender em casa com o marido. “É tudo uma questão de interpretação. Infelizmente, os fundamentalistas interpretam alguns textos a partir da própria perspectiva, daquilo que desejam”, finaliza o pastor Celso.

Fonte: Comunhão

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