O conflito entre o prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), e o Grupo Globo poderá ter impacto sobre as parcerias hoje existentes da empresa com o município.

Ao longo dos oito anos da gestão Eduardo Paes (PMDB), que deixa o cargo em janeiro, o grupo de comunicação atuou nas áreas de educação, cultura e eventos da cidade.

Por meio da Fundação Roberto Marinho, o grupo foi responsável pela reforma do edifício D. João para sediar o Museu de Arte do Rio (MAR) e pela concepção do Museu do Amanhã, símbolos da revitalização portuária.

O grupo recebeu da prefeitura R$ 89,6 milhões pelas duas obras. A fundação ainda participa dos conselhos dos museus, sem remuneração.

O município também patrocina, desde 2011, a Infoglobo, empresa ligada ao grupo, na realização de eventos de gastronomia, educação, moda, música e Carnaval.

O Grupo Globo recebeu R$ 132 milhões da prefeitura por meio da Fundação Roberto Marinho e da Infoglobo, sem incluir pagamentos por publicidade.

A continuidade das parcerias depende de Crivella, que chamou a emissora de TV do grupo de “inimiga jurada” de sua candidatura.

Por trás do conflito há a disputa entre Globo e Rede Record, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, da qual o prefeito eleito é bispo licenciado.

De janeiro a setembro de 2016, a Globo tem ficado na liderança de audiência no Rio, com média diária de 17,9 pontos (cada ponto, na Grande Rio, equivale a 116,3 mil espectadores individuais).

Entre os canais de TV aberta, a Record fica em em segundo lugar com 6,9 pontos e o SBT em terceiro, com 6,7.

O prefeito eleito atribuiu à concorrência entre as emissoras o que chamou de “dilúvio de infâmias” –reportagens críticas a seu respeito.

“Eles acham que, pela minha mãe ser irmã do bispo Macedo, que eu vou usar de alguma forma a minha influência para ajudar a [TV] Record. Imagina se eu vou fazer uma coisa dessa”, disse ele na campanha.

Sobre o caso, a Globo disse, em nota, durante a eleição: “A missão de um veículo jornalístico é revelar fatos importantes, incômodos ou não, envolvendo as candidaturas. A TV Globo tem feito isso de forma isenta com os dois candidatos em disputa [Crivella e Marcelo Freixo]”.

No dia seguinte à vitória, o prefeito eleito concedeu entrevista à Record pela manhã e foi ao estúdio do SBT no início da tarde. Pela primeira vez em muitos anos a TV Globo não exibiu uma entrevista ao vivo com o prefeito eleito.

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A escolha inicial pode se refletir também na disputa por verbas de publicidade.

A prefeitura não divulga a distribuição por emissora, mas a Folha apurou que a Record não recebeu nada dos R$ 86 milhões pagos em publicidade neste ano.

No ano passado, foram apenas R$ 4,5 milhões dos R$ 105,4 milhões gastos, enquanto a TV Globo teve cerca de R$ 23 milhões.

Paes decidiu interromper os repasses à Record por suspeitar que a emissora estivesse favorecendo em seu noticiário o senador, rival de seu aliado Pedro Paulo (PMDB) na disputa pela sucessão.

Atribuía a esse fato uma série de reportagens que apontavam suspeitas sobre políticos do PMDB.

Um dos pontos de disputa entre as emissoras é também a transmissão do Carnaval.

A Globo tem contrato até 2019 com a Liesa (Liga das Escolas de Samba).

A emissora viveu até meados deste ano uma crise com as agremiações por não transmitir os desfiles da primeira escola de cada dia.

O conflito foi solucionado com mudanças no tempo de apresentação de cada uma.

Aliados de Crivella afirmam que o prefeito eleito deve ter uma relação pragmática com o Grupo Globo.

Uma redistribuição de verbas de publicidade, contudo, é vista como certa. Um dos principais conselheiros políticos do prefeito eleito é Isaias Zavarise, ex-diretor de marketing da TV Record.

Procurados, Grupo Globo e Record não quiseram se pronunciar sobre o tema.

[b]Fonte: Folha de São Paulo[/b]

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