Em novembro, a Justiça israelense se pronunciou sobre o caso de um padre grego ortodoxo que, atingido por um jato indesejado de saliva, deu em troca um soco.

É uma guerra de esconde-desvia, com infinitas reservas de munição. Com a cabeça coberta por um chapéu de abas largas, ladeada por peiots (longas mechas de cabelo), os agressores se vestem de preto da cabeça aos pés. Eles se movem muito rapidamente pelas ruelas de pedras da Cidade Velha de Jerusalém, ziguezagueando habilmente pela multidão para não encostar em ninguém, sobretudo em mulheres, supostamente impuras. Quando eles cruzam com um “inimigo”, sacam rapidamente uma cusparada mais ou menos mirada, e se perdem na multidão.

É fácil, uma vez que os alvos se identificam por uma cruz ou uma batina. Faz anos, séculos, provavelmente, que isso acontece, mas as autoridades religiosas acabam de lançar um alerta: a guerra das cusparadas entre ultraortodoxos ou haredim (“temente a Deus”) e cristãos vem se intensificando há seis meses. Nem sempre o confronto produz vítimas: muitas vezes a cuspida erra seu alvo. É verdade que os agressores mais temerosos se contentam em cuspir no chão quando passa uma batina, enquanto os mais tinhosos miram no hábito ou no rosto.

Em novembro, a Justiça israelense se pronunciou sobre o caso de um padre grego ortodoxo que, atingido por um jato indesejado de saliva, deu em troca um soco. O judeu agredido prestou queixa, sem sucesso. “Cuspir dessa forma no acusado enquanto este portava o hábito de sua Igreja foi um delito criminoso”, considerou o juiz.

É cedo demais para saber se o caso fará jurisprudência e dissuadirá no futuro os judeus ultraortodoxos-cuspidores, que só representariam a parte não educada de sua comunidade. Embora… na mentalidade coletiva dos “homens de preto” (apelido dos haredim), a ideia de que a religião cristã tenha apoiado ao longo de séculos inúmeros ataques contra os judeus – o que é exato do ponto de vista histórico – ainda alimente fortes ressentimentos.

Por ora, pareceu urgente pedir perdão.

Foi nesse espírito que uma delegação da prefeitura de Jerusalém encontrou, na quinta-feira (8), o patriarca armênio, Torkom Il Manoogian, para desculpar-se por esse recrudescimento nos ataques. No dia 18 de novembro, uma delegação de dirigentes judeus, acompanhados pelo rabino Arik Ascherman, da ONG Rabinos pelos Direitos Humanos, fez o mesmo junto ao patriarca da Igreja grega ortodoxa, Teófilos 3º.

Os cristãos acham que essas desculpas são bem-vindas, mas que um uso sistemático de centenas de câmeras que equipam as ruelas da Cidade Antiga para autuar os culpados seria igualmente eficaz. Isso porque há limites para a fala dos profetas: “Não escondi meu rosto dos que me afrontavam e me cuspiam” (Isaías, capítulo 50, versículo 6 do Antigo Testamento).

[b]Fonte: Le Monde[/b]

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