Igreja Católica, ao lado de outros setores da sociedade hondurenha, prepara-se para mediar a crise. Na catedral diante da Praça de Tegucigalpa onde ocorreram as principais manifestações na capital de Honduras nesta semana, o cardeal-arcebispo Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, principal autoridade católica de Honduras, afirmou ao Estado que está intermediando o diálogo entre o governo de facto de Roberto Micheletti e os aliados de Manuel Zelaya, o presidente deposto na madrugada de domingo e expulso do país por militares.

Os dois lados, segundo fontes na cidade, já iniciaram um diálogo para encontrar uma solução para o impasse, após o ultimato lançado ontem pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para que Zelaya seja reinstalado no poder em 72 horas (mais informações na página 19) .

“Não posso opinar sobre o que ocorreu porque estou como negociador neste impasse. Os dois lados estão conversando para chegar a um acordo e eu preciso manter a neutralidade”, disse o cardeal, que chegou a ser cotado para tornar-se papa depois da morte de João Paulo II, em 2005. O líder católico acrescentou que “há risco de conflito interno”, uma vez que os dois lados estão armados. Indagado sobre se poderia responder a questões sobre a crise, o cardeal-arcebispo de Tegucigalpa afirmou que não, pois isso poria em xeque a posição de negociador.

Um dos mais respeitados deputados hondurenhos também confirmou ao Estado, sob a condição de anonimato, que o diálogo existe e ocorre tanto em Tegucigalpa quanto em Washington, apesar da retórica radical adotada por Micheletti. O parlamentar integra um bloco neutro no Congresso que se opõe às ações de Zelaya no poder, mas também considera equivocada a forma como o presidente foi removido do poder.

“Os dois lados querem esperar um pouco para encontrar uma solução. Com a pressão internacional, será difícil o cenário permanecer como está. Os aliados do governo de facto sabem disso. Já os que apoiam Zelaya têm consciência de que o retorno não será incondicional. Provavelmente, o ex-presidente terá de assumir uma série de compromissos formais”, disse, referindo-se às tentativas de Zelaya de mudar a Constituição para que possa eleger-se outra vez. “O mais importante será o que os EUA decidirem. Aqui, não interessa nada o que Brasil, Venezuela, Europa, Argentina e Equador digam. Se os americanos pressionarem, todos cedem, pois dependemos dos EUA.”

Adiamento

Zelaya viria ao país hoje, mas adiou a viagem para o sábado, quando expira o ultimato da OEA. Até lá, estimam analistas, as partes já deverão ter chegado a um acordo.

A comissão do governo de Micheletti que embarcou para os EUA buscará justamente participar dessas negociações e não apenas levar seus argumentos a Washington. A redução das declarações de Zelaya – que viajou ontem para o Panamá onde participou, como chefe de Estado hondurenho, das cerimônias de posse do presidente Ricardo Martinelli – também teria ocorrido por recomendação dos mediadores.

Os dois principais candidatos a presidente de Honduras, Porfírio Pepe Lobo, do Partido Nacional, e o ex-presidente Elvin Santos, do Partido Liberal (o mesmo de Zelaya), mantêm cautela e não se envolvem nos debates. Segundo analistas, os dois sabem que, neste momento, o melhor é não tomar partido e facilitar o diálogo nos bastidores. Santos deixou o cargo de vice para poder se candidatar à presidência, em eleições que ocorrem em novembro. Sua relação com Zelaya não era boa.

Uma das saídas possíveis seria a antecipação da eleição, já que os dois candidatos, “não estão contaminados” por nenhum dos dois lados na disputa. Já o organismo de direitos humanos de Honduras propôs ontem a realização de um plebiscito para decidir se Zelaya pode ou não permanecer no cargo.

Fonte: Agência Estado

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