A Igreja Católica nicaragüense, apoiada por setores evangélicos, preparou, nesta sexta-feira à tarde, uma grande marcha contra a despenalização do aborto em todas as suas modalidades. O debate do tema envolve todos os setores da sociedade.

A diretora do Conselho de Igrejas Evangélicas Pró Aliança Denominacional (Cepad), engenheira Damaris Albuquerque, afirmou que “as mulheres, ante o risco de suas vidas, têm pleno direito a defendê-la; o Cepad rechaça todo aborto por gravidez não desejada, mas o aborto terapêutico é compreensível, quando a vida da mãe está em perigo”.

Damaris Albuquerque pediu a reflexão dos nicaragüenses para que não se deixem levar pela manipulação, porque em campanhas eleitorais os políticos sempre buscam água para o seu moinho, ironizou.

A integrante da Rede contra a Violência, Yamileth Mejia, consultada sobre a
marcha contra o aborto convocada pela Igreja Católica, disse que a igreja romana chama de criminosos aqueles que defendem o aborto terapêutico, quando “são os bispos que atentam contra a vida ao não permitirem o acesso das mulheres e meninas que acabam engravidando, produto de uma violação”.

Mejia denunciou que o candidato presidencial da frente sandinista, Daniel Ortega, não fala a verdade quando se pronuncia contra qualquer tipo de aborto. “A organização de mulheres, AMLAE, que é sandinista, promoveu e defendeu o aborto, o que acontece é que agora Ortega anda em campanha e é muito amigo do cardeal Miguel Obando y Bravo”, criticou.

“A eliminação do aborto terapêutico do Código Penal significaria uma violação ao direito à vida das mulheres, sua liberdade, autodeterminação e integridade física”, advertiu a jurista Guadalupe Salinas, com mais de 30 anos de experiência, em palestra ao Movimento de Mulheres Autônomas (MAM), no final de semana passado. A conferencista sustentou que se deve manter o aborto terapêutico no código penal.

Sobre o mesmo tema, o ginecologista Oscar Flores disse que a prática médica no caso de aborto terapêutico deve ser regulamentada. Não se identificam as responsabilidades e as mulheres que necessitam do aborto terapêutico não sabem aonde ir ou a quem recorrer.

Oscar Flores agregou que essa falta de orientação poderia ser a causa de que em 2004 apenas 20 mulheres solicitaram aborto terapêutico. Antes, em 1996 por exemplo, foram registradas cerca de 400 solicitações. Segundo o especialista, entre 10% e 15% das gravidez terminam em aborto. Estima-se que na Nicarágua sejam praticados 36 mil abortos ilegais por ano, de cerca de 180 mil casos de gravidez registrados.

“As mulheres necessitam de orientação terapêutica e o sistema oficial não permite; elas arriscam suas vidas com práticas ilegais”, disse Juana Jiménez, da Rede da Violência contra as Mulheres.

O padre Pablo Villafranca disse que a posição da igreja católica defende a preservação da vida humana acima de tudo, porque só Deus a cria e só Ele é o dono absoluto da vida.

Fonte: ALC

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