O bispo de São Tomé, D. Manuel António, considera, em entrevista à Agência Lusa, que “a Igreja tem uma voz política” e “o direito de denunciar situações de desvios de fundos que deveriam servir o povo”.

“A Igreja tem também uma voz política. Mesmo que digamos que não nos queremos meter em política, essa atitude não deixa de ser uma atitude política”, afirma António, antes de partir para Luanda, onde acompanhará a visita do Papa a Angola, entre 20 e 23 de março.

A Diocese de São Tomé pertence à Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) e o seu bispo, D. Manuel António, considera o papel da Igreja como necessário para “dar voz a quem não tem voz”.

“A Igreja também tem direito de ser a voz dos mais pobres, dos mais oprimidos, a ser a voz da esperança, nesse mundo onde tanta gente vive sem futuro, vive sem horizontes de vida”, diz António.

Nesse sentido, a Igreja “tem direito a ser uma voz também que denuncie os desvios de fundos que deveriam servir para o povo, tem direito a denunciar situações de corrupção, situações de explorações do povo”.

Esse papel deve ser assumido, declara, “sem se comprometer seja com quem for, porque a Igreja deve manter sempre a sua independência”.

O bispo da diocese de São Tomé dirige uma delegação integrada por um padre, três catequistas, dois religiosos e dois seminaristas para acompanhar a visita do Papa Bento 16.

“Angola foi um dos países escolhidos (para a visita do Papa) por ser o primeiro território a sul do Saara, onde o cristianismo iniciou todo o seu trabalho de anúncio do Evangelho de Cristo”, explica, lembrando que foi na região do Soyo que se celebrou a primeira missa.

Guerra civil

O bispo de São Tomé vê Angola, atualmente, como um país com “grandes potencialidades e grandes riquezas”, mas também “grandes contingentes de pessoas vivendo muito pobremente”, ainda que reconheça “o período muito difícil” que o país passou e ajuda a explicar essa realidade.

“O governo tem apostado novas vias de comunicação, em novos investimentos escolares, em sanitários”, afirma. “Mas certamente que reconhecemos que poderá haver também desvios, corrupção e tudo o mais”, prossegue.

Porém, a esperança da população Angola de viver dias melhores não morreu e “o país tem todas as condições para que aquela gente possa ter outras condições de vida”, acrescenta.

Para isso torna-se necessário “colocar todos os meios para quebrar o ciclo de miséria que Angola ainda vive”, defende António. “Angola não tem razões para viver essa pobreza, essa miséria”.

Aids

O bispo reafirma a ideia do Papa, no início da visita ao continente africano, na terça-feira aos Camarões, a respeito da distribuição de preservativos para combater a aids.

“O que a Igreja diz é que o uso de preservativo só por si não vai ser a solução”, refere o bispo de São Tomé. “Pelo contrário, às vezes pode ser uma contra-solução”, diz.

“Há que dizer às pessoas que a luta contra a sida passa mais pela mudança do comportamento, pela conscientização da gravidade de determinados comportamentos”, explica.

A respeito da proliferação das seitas religiosas em Angola, António classifica-as como “um fenômeno típico de hoje”.

“É um fenômeno próprio do ambiente plural e democrático, portanto, graças a Deus, as pessoas podem seguir livremente a sua religião”, afirma.

No entanto, ele alerta para a possibilidade de haver seitas “que poderão usar a miséria do povo, situações do sofrimento, para fazer falsas promessas, prometendo mundos e fundos, novos paraísos e, no fundo, explorarem a miséria desse mesmo povo”.

Fonte: Lusa

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