Em contrapartida, segundo dados do Centro Pew, o casamento ainda mantém sua popularidade entre grupos mais educados nos Estados Unidos.

Pela primeira vez em que se tem notícia, o número de norte-americanos não casados está prestes a superar o número de casados, segundo pesquisas recentes. Será que se trata de um divisor de águas?

À primeira vista, parece que, assim como em muitos países ocidentais, a instituição matrimonial está em declínio nos EUA.

Em 1960, 72% de todos os adultos norte-americanos eram casados; em 2010, apenas 51% deles eram casados, de acordo com uma pesquisa do Centro Pew.

“Acho que estamos vendo o matrimônio se tornar menos central no curso de nossa vida e (na forma como) moldamos nossas crianças”, observa Bradford Wilcox, diretor de um programa de estudos do casamento e professor de sociologia na Universidade da Virgínia.

Norte-americanos certamente estão esperando mais para se casar – a média de idade para o primeiro casamento está em seu nível mais alto historicamente, em 26,5 anos para mulheres e 28,7 para homens – ou escolhendo apenas conviver, viver sós ou não se casar após um divórcio.

A colunista de comportamento Amy Dickinson, do jornal Chicago Tribune, acredita que a agilização legal de divórcios consensuais e leis mais rígidas de pensão alimentícia são duas das razões por trás da perda de popularidade do casamento nos Estados Unidos.

“Você não precisa mais estar casado com alguém para obter apoio financeiro, e acho que isso tem um grande impacto em casais com filhos e que, vinte anos atrás, precisavam se casar para estabelecer legitimidade e só então ter estabilidade financeira.”

Em algumas comunidades, pais solteiros se tornaram norma e não mais exceção, diz ela, alegando que americanos ficaram mais confortáveis com a ideia de lares “não tradicionais”.

[b]Resistindo à pressão
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O país também tem a maior taxa de divórcios do mundo – algo que, sem dúvida, abala a confiança de muitos jovens na instituição matrimonial.

A americana Rhyan Romaine e seu parceiro, Seth, estão juntos há seis anos, mas resistem à pressão de amigos e parentes para que se casem.

“Seth vem de uma família de divorciados, e vejo como isso afetou sua vida”, afirma Rhyan. “Ele diz que sequer pensará em casamento até que estejamos juntos há dez anos. Eu disse que, enquanto estivermos felizes, ficaremos juntos.”

“Acho que também tenho esse medo, ainda que meus pais permaneçam casados”, continua ela. “(O casamento) é assustador, tendo visto tantos amigos que se casaram logo depois da escola e que agora, com 30 e poucos anos, estão de volta à paquera.”

Mas Rhyan acredita que ainda há “muita pressão” sobre jovens mulheres para que se casem nos EUA, país em que o casamento idealizado e de conto de fadas continua sendo difundido pelas comédias românticas de Hollywood e por reality shows.

[b]’Casamento é uma boa ideia’
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Em contrapartida, segundo dados do Centro Pew, o casamento ainda mantém sua popularidade entre grupos mais educados.

A pesquisa do instituto aponta que quase dois terços (64%) dos adultos americanos com diploma universitário são casados, comparados com apenas 47% dos adultos que têm apenas diploma colegial. Trata-se de um forte contraste com 1960, quando os grupos mais e menos educados tinham taxas semelhantes de casados.

“Houve uma percepção, entre americanos diplomados, de que o casamento é uma boa ideia, mesmo que você não goste de falar isso em público”, argumenta Bradford Wilcox.

“Em temas como aborto ou assuntos de interesse global, os americanos com educação superior em geral são mais progressistas. Mas, quando o assunto é a sua própria vida e a de sua família, nossa percepção é de que eles pensam em casamento e são mais convencionais quanto à vida familiar.”

Wilcox, que pesquisou o impacto da recessão econômica sobre as uniões nos EUA, preocupa-se com o fato de o casamento estar “murchando” entre os grupos com renda média e baixa, algo que pode ter um efeito desastroso na economia e na sociedade americanas.

“Acho que estamos indo em direção a um modelo latino clássico, em que os mais poderosos e privilegiados têm famílias fortes e estáveis, com acesso a uma boa renda e ativos. E quem não está (nessa camada social) fica pior e pior (a cada dia).”

Casamento e prosperidade

A família tradicional e nuclear ainda é tida como um ideal na política e na sociedade dos EUA, certamente mais do que em outras democracias ocidentais. Para Wilcox, a instituição matrimonial tem sido chave para a prosperidade do país nos últimos anos.

O pesquisador acredita que o declínio do casamento está relacionando à brusca queda do poder aquisitivo e das possibilidades de emprego para norte-americanos não diplomados, que não têm recursos suficientes para se casar. Com isso, deixam seus filhos “duplamente em desvantagem”: sem estabilidade familiar ou financeira.

Mas talvez ainda seja prematuro escrever o obituário do casamento nos EUA.

O declínio de 5% no número de novos casamentos no país entre 2009 e 2010, revelado pelo Centro Pew, pode estar relacionado apenas a fatores econômicos de curto prazo.

Considerando que uma festa de casamento comum custa em torno de US$ 20 mil, muitos casais têm optado por um noivado mais longo, que lhes permita economizar mais dinheiro, aponta Kyle Brown, da Associação de Noivas Americanas, órgão que representa um mercado multibilionário.

Mas, acrescenta Brown, integrantes de sua associação notaram um crescimento na demanda por planejamento de casamentos nos últimos três meses. “Acredito que veremos um aumento no número de festas entre 2012 e 2013”, aposta ele. “É puramente uma questão econômica.”

[b]Fonte: BBC Brasil[/b]

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