Da infância sob o regime nazista na Baviera ao conclave do ano passado no Vaticano, o jornalista italiano Andrea Tornielli traça um perfil crítico de Joseph Ratzinger que ajuda a entender a história e o pensamento do papa alemão que sucedeu João Paulo II, seu amigo e guia.
Adaptação de uma edição anterior lançada em 2002, quando o cardeal era o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o livro Bento XVI: o Guardião da Fé (Record, 238 p.) recorre a citações textuais do personagem, extraídas de entrevistas, artigos e documentos, para reconstruir sua trajetória. O autor dá ênfase ao teólogo que, por mais de 23 anos, ocupou um dos cargos mais importantes da Igreja Católica.
Quem se escandalizou com a informação, muito divulgada após sua eleição, de que Ratzinger lutou no exército de Hitler, fica sabendo que ele não só foi obrigado a se alistar como também que se recusou a entrar na SS, a tropa de elite que considerava criminosa. Alegou que sua intenção era ser padre e não militar. “Fomos cobertos de escárnios e de insultos, e perseguidos, mas essas humilhações nos deram muito prazer, no momento em que nos libertavam da ameaça desse recrutamento falsamente voluntário e de todas as suas conseqüências”, escreveu em 1944, quando servia numa unidade de defesa antiaérea.
Ao registrar a carreira acadêmica de Ratzinger, o livro mostra que foi um estudante e um professor de idéias avançadas numa época em que qualquer divergência em relação à orientação de Roma era suspeita. Lecionou na Universidade de Tübingen, a convite de Hans Küng, o teólogo dissidente que seria censurado em 1979 pelo Vaticano.
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A passagem de Ratzinger pela Congregação para a Doutrina da Fé lhe deu a imagem de um cardeal intransigente na defesa da ortodoxia. Foi duro sobretudo com os seguidores da Teologia da Libertação, entre os quais o brasileiro Leonardo Boff. O livro de Tornielli reproduz o diálogo bem-humorado que tiveram em Roma, quando Boff foi interpelado a respeito de suas idéias. “Fica-lhe muito bem, padre. Também deste modo se pode dar um sinal para o mundo”, disse o cardeal, elogiando a aparência do franciscano.
Outras citações indicam que, se Bento XVI for fiel ao pensamento de Joseph Ratzinger, pouca coisa ou nada vai mudar na Igreja em relação a questões como o sacerdócio para mulheres, o comportamento homossexual e a admissão à eucaristia dos divorciados que se casaram de novo.
Fonte: Último Segundo