Iraquianos que seqüestraram o sacerdote sírio ortodoxo em 9 de outubro abandonaram o corpo decapitado do religioso em um subúrbio a nordeste de Mosul, na noite de 11 de outubro.

Boulos Iskander, 59, foi capturado em uma rua de Mosul na tarde da segunda-feira, enquanto procurava peças para seu carro em lojas de autopeças da região.

Os seqüestradores muçulmanos telefonaram para o filho mais velho do sacerdote, exigindo da família 350 mil dólares como pagamento de resgate.

 
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Depois de negociações feitas em vários telefonemas, os seqüestradores reduziram gradualmente o valor do resgate para 40 mil dólares, mas acrescentaram outra exigência: que a igreja do religioso repudiasse publicamente as declarações do papa Bento XVI sobre o islã feitas na Alemanha, no mês passado.

A família conseguiu levantar a quantia exigida e pagar o resgate, e os membros da paróquia de St. Ephram, da Igreja Ortodoxa Síria, espalharam 30 cartazes em muros da cidade, distanciando-se dos comentários do papa. Mas, então, os telefonemas pararam.

Comunidade comovida

O corpo esquartejado de Boulos Iskander foi descoberto na noite de 11 de outubro, por volta das 19 horas, em Tahrir City, um distrito afastado, a dois quilômetros do centro de Mosul. Seus braços e pernas foram colocados ao redor de sua cabeça, que estava encostada no peito. O corpo foi levado ao hospital, que notificou à igreja.

As notícias do assassinato chegaram a Damasco quando o patriarca Zacca Iwaz estava reunido com os bispos do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Síria de Antioquia.

O bispo de Mosul, Saliba Chamoun, retornou de Damasco a tempo de conduzir o funeral na tarde do dia 12 de outubro. Ele anunciou durante o serviço que tinha sido comissionado pelo patriarca Zacca Iwaz a conceder o título honorário de “arquimandrita”, uma graduação logo abaixo do nível de bispo.

Um clérigo sírio ortodoxo presente no funeral disse ao Compass que pelo menos 500 membros da comunidade cristã de Mosul compareceram ao enterro, muitos deles chorando bastante. “Muitas outras pessoas queriam comparecer ao funeral, mas estavam com medo. Estamos em terríveis circunstâncias agora”, ele disse.

Boulos Iskander deixou a mulher, Azhar, os filhos Fadi e Yohanna, a filha casada Fadiyeh e uma filha adolescente, Mariam, de 13 anos.

“É um dia muito triste e difícil para nós”, afirmou o bispo Chamoun. “O padre Boutros era muito ativo e amava profundamente sua missão e a igreja”.

Fontes da igreja iraquiana disseram que um cristão de Bagdá, Joseph Fridon Petros, 55, foi morto numa emboscada enquanto viajava de Diala para a capital.

Atrocidades durante o Ramada

Os cristãos iraquianos se tornaram alvos de morte desde o começo do Ramadã, o mês muçulmano de jejum que está em sua terceira semana.

De acordo com a agência AsiaNews, militantes islâmicos distribuíram folhetos por toda Mosul depois do controverso discurso do papa na Alemanha, exigindo que os clérigos católicos condenassem as declarações do papa sobre o islã. Se eles não fizessem isso, segundo as ameaças, “os cristãos serão mortos e as igrejas demolidas”.

Reforçando o aviso contra a comunidade cristã de Mosul, militantes armados cercaram a Igreja Católica Caldéia do Espírito Santo em 24 de setembro. Os extremistas dispararam pelo menos 80 tiros contra a igreja, danificando o lado direito do prédio e estilhaçando algumas janelas. Embora o ataque tenha acontecido pouco depois de 11 horas de uma manhã de domingo, não havia serviço religioso acontecendo no momento e não houve feridos.

Em Bagdá, no mesmo domingo, duas bombas explodiram perto da Igreja Ortodoxa Assíria da Virgem Maria, no distrito central de Bagdá Al-Kerada, deixando quatro civis mortos, inclusive o guarda da igreja. Outras 14 pessoas ficaram feridas. A primeira explosão, no carro do sacerdote da igreja Ezaria Warda, aconteceu quando os fiéis deixavam a missa. Um segundo carro explodiu minutos depois.

Tiros e seqüestros de jovens cristãs

Outro ataque armado aconteceu em Mosul em 2 de outubro, contra um convento de freiras dominicanas. Ninguém ficou ferido, embora uma rajada de balas tenha sido disparada contra o jardim do convento.

Dois dias depois, militantes desconhecidos voltaram a disparar tiros contra a Igreja do Espírito Santo, em 4 de outubro e mais uma vez no dia seguinte, ferindo um dos guardas que teve de ser hospitalizado.

Segundo fontes no Iraque, alguns dos clérigos cristãos deixaram de usar suas roupas sacerdotais em público para evitar ataques.

Jovens cristãs iraquianas começaram a se tornar alvos de insurgentes ligados à indústria de seqüestro nas últimas duas semanas.

“Em um caso ocorrido em Bagdá, a vítima cometeu suicídio depois que o resgate foi pago e ela voltou para casa, por causa da tortura e da violência sexual que sofreu”, relatou a agência AsiaNews. Outra garota que foi estuprada por seus seqüestradores se suicidou quando ainda estava no cativeiro.

Fonte: Portas Abertas

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