Mel GibsonO ator Mel Gibson, 50, divulgou nesta terça-feira um novo comunicado no qual pede desculpas aos judeus por suas declarações anti-semitas. O ator foi preso na última sexta-feira por dirigir embriagado em Malibu, Califórnia. Durante a prisão, ele agrediu verbalmente os policiais.

“Os judeus são responsáveis por todas as guerras do mundo”, teria sido uma das frases ditas pelo ator e diretor, após se referir aos policiais (incluindo um delegado judeu) como “judeus de merda”. O delegado James Mee afirmou à àgência de notícias Associated Pres que não levou a sério os comentários que o ator fez logo após ser preso.

Gibson foi detido por dirigir a 140 km/h, 75 km/h acima da velocidade máxima permitida na estrada de Malibu. Segundo a polícia, o nível de álcool no sangue dele no momento da detenção era de 0,12%, quando o limite legal é de 0,08%. No carro do ator, um Lexus LS, foi encontrada uma garrafa de tequila. Gibson foi liberado logo em seguida após pagamento de uma fiança de US$ 5 mil.

O episódio reacendeu as críticas feitas ao ator quando dirigiu “A Paixão de Cristo” (2004), filme que descreve as últimas horas da vida de Jesus Cristo. Ele foi acusado de anti-semitismo ao incriminar os judeus pela sua morte.

“Não há desculpas e não deveria haver tolerância para ninguém que pensa ou expressa qualquer tipo de comentário anti-semita. Quero me desculpar espeficicamente com todos da comunidade judaica pelas palavras sarcásticas e danosas que eu disse a um oficial da polícia na noite em que fui preso”, diz o ator em nota oficial divulgada hoje.

Gibson afirma ser uma pessoa pública e que, quando diz algo, mesmo em um “momento de insanidade”, suas palavras ganham um peso maior na mídia. “Devo assumir a responsabilidade por minhas palavras e pedir desculpas diretamente àqueles que ficaram magoados e ofendidos por essas palavras”, ressaltou o ator.

“Todo ser humano é um filho de Deus, e se eu desejo honrar meu Deus, tenho de honrar seus filhos”, continuou. “Por favor, saibam, do meu coração, que não sou anti-semita. Não sou invejoso. Qualquer tipo de ódio vai contra a minha fé. […] Não estou apenas pedindo perdão. Gostaria de dar um passo além e encontrar os líderes da comunidade judaica, com quem poderei ter uma conversa cara a cara para encontrarmos o caminho apropriado para uma resolução.”

No comunicado, Gibson comentou ainda seu ingresso em um programa de reabilitação para tratar-se do alcoolismo. “Percebo agora que não posso fazer isso sozinho”, disse o ator, que pediu a ajuda da comunidade judaica para o seu restabelecimento. “Sei que haverá muitos na comunidade que não irão querer nada comigo, e é compreensível. Mas rezo para que as portas não estejam fechadas para sempre.”

O ator finalizou o comunicado dizendo que suas palavras não têm relação apenas com o episódio da prisão. “Isso não diz respeito a um filme nem a uma licença artística. Isso diz respeito à vida real e ao reconhecimento das conseqüências dolorosas que as palavras podem ter. É sobre conviver em harmonia em um mundo que parece ter ficado louco”, considerou Gibson.

Reações

A Liga dos Estados Unidos Contra a Difamação declarou que o pedido de desculpas é insuficiente, e quer que Gibson seja gravemente punido. “Parece que a combinação de bebida e a prisão revelou seu verdadeiro caráter”, disse Abraham H. Foxman, diretor da Liga Contra a Difamação, à Associated Press. “O único jeito de combater intolerantes é estabelecer um preço para a intolerância”, continuou.

Nesta terça, a rede de televisão ABC cancelou uma minissérie sobre o holocausto que seria produzida junto com o ator e sua produtora, a Icon Productions. A informação foi divulgada pela emissora em um breve comunicado.

“Já se passaram dois anos e ainda não vimos o primeiro rascunho ou roteiro, por isso decidimos não levar adiante o projeto com a Icon”, disse a ABC,que não comentou a prisão de Mel Gibson na última sexta-feira e o fato dele ter proferido frases anti-semitas.

A minissérie da ABC seria baseada em um livro de memórias sobre um judeu holandês durante a Segunda Guerra Mundial.

Líder judeu aceita perdão de Gibson, mas Hollywood mantém crítica

Um influente dirigente da comunidade judaica americana, Abraham H. Foxman, aceitou o novo perdão do astro Mel Gibson pelas declarações anti-semitas feitas pelo ator na sexta-feira.

Foxman havia rejeitado o primeiro pedido de desculpas de Gibson, que foi detido ao dirigir alcoolizado em Malibu, nos EUA. Executivos de Hollywood, porém, preferiram continuar censurando a atitude do ator e diretor.

“Esta é a desculpa que esperávamos e que pedimos. Comemoramos que Mel Gibson finalmente tenha assumido o fato de que deu declarações anti-semitas, e suas desculpas parecem sinceras”, disse Foxman.

“Não existe nenhuma desculpa, nem deve existir qualquer tipo de tolerância para alguém que pensa ou expressa qualquer tipo de afirmação anti-semita. Quero pedir perdão a todos na comunidade judaica pelas palavras ácidas e prejudiciais que eu disse a um oficial da polícia”, admitiu mais cedo o ator em um comunicado enviado pelo porta-voz.

Foxman se mostrou aberto a ter uma ponte de diálogo com Gibson, como solicitou o astro em seu pedido de desculpas.

O dirigente havia rejeitado as desculpas anteriores do ator, apresentadas no sábado, nas quais ele não mencionou as declarações anti-semitas, machistas e irônicas que fez no momento de sua prisão, na sexta-feira, e que foram divulgadas pelo site especializado na vida das celebridades “tmz.com”.

“Os judeus são responsáveis por todas as guerras do mundo”, teria dito Gibson, segundo o site, que noticiou a prisão em primeira mão. De acordo com a fonte, o ator e diretor ainda teria dito “judeus de merda” para se referir a um policial após ter sido detido por dirigir embriagado.

Hollywood

Segundo especialistas em mídia, embora o público seja condescendente com o ator, o mesmo não ocorrerá com a indústria do entretenimento, “onde trabalham muitos judeus”.

Como primeira sanção, a importante emissora ABC anunciou em um comunicado o cancelamento de uma minissérie sobre o Holocausto que estava sendo preparada pela produtora de Gibson, a Icon Productions, embora nem o comunicado, nem os porta-vozes do ator mencionem a polêmica.

“Considerando que levamos quase dois anos (trabalhando) e que ainda veremos o primeiro esboço do roteiro, decidimos não continuar mais este projeto com a (produtora) Icon”, informou a ABC em um comunicado.

Para dezembro está prevista a estréia de um filme sob direção de Gibson, “Apocalyto”, fita de grande orçamento rodada no México e cuja distribuição ficará a cargo da Disney, mas ainda está em aberto saber se este incidente não comprometerá seus planos.

Vários executivos de Hollywood fizeram duras críticas na imprensa local contra a atitude do ator.

“Fazer todo o dinheiro com os judeus de Hollywood e depois dizer após alguns poucos drinques que se tem ódio dos judeus é chocante. Se não gosta dos judeus, não trabalhe com eles”, declarou ao jornal Los Angeles Times o israelense Arnon Milchan, produtor do filme “Sr. e Sra. Smith”, com Brad Pitt e Angelina Jolie.

Rejeitando o pedido de desculpas de Gibson, Milchan acrescentou: “é como jogar uma bomba nuclear e dizer: ‘Não sabia o dano que causaria, lamento de verdade'”.

A alta executiva da Sony Pictures, Amy Pascal, disse por sua vez que “é incrivelmente surpreendente que alguém de sua posição se expresse desta forma, especialmente em um momento sensível”.

Este não é o primeiro incidente entre a comunidade judaica e Gibson, considerada uma das pessoas mais influentes e requisitadas de Hollywood.

Há dois anos, o ator já havia sido criticado por seu filme, “A Paixão de Cristo”, que conta as últimas horas de vida de Jesus segundo uma interpretação literal da Bíblia. A fita, que rendeu a Gibson 611 milhões de dólares de bilheteria, gerou protestos por referências consideradas anti-semitas.

Fonte: Folha Online

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