Especialistas católicos e judeus preocupam-se com o futuro da relação entre suas religiões porque os planos do Vaticano de permitir novamente a realização de missas em latim podem incluir orações para converter os judeus ou significar um retrocesso no respeito às crenças deles.

O papa Bento 16 deve anunciar em breve a autorização para realizar novamente missas em latim, uma concessão aos tradicionalistas que criticam as reformas aprovadas pelo Concílio Vaticano Segundo (1962-65), reformas essas que incluem a realização de missas nos idiomas modernos e o respeito aos não católicos.

O problema é que os textos tradicionais incluem passagens nas quais se diz que os judeus vivem “na cegueira” e “na escuridão.”

Essas orações pedem que “o Senhor, nosso Deus, retire o véu dos corações deles a fim de que possam também reconhecer nosso Senhor Jesus Cristo.”

A antiga liturgia, conhecida como missa Tridentina, não inclui as medidas aprovadas pelo Concílio Vaticano e responsáveis por mudar a antiga opinião da Igreja sobre os judeus, reapresentando-os como “os irmãos mais velhos” dos cristãos, conforme o papa João Paulo 2o gostava de descrevê-los.

“É óbvio que a retomada da missa Tridentina provocaria um abalo duradouro no diálogo entre judeus e católicos iniciado de forma tão auspiciosa no Concílio Vaticano Segundo”, afirmou em uma declaração do grupo de discussão católico-judaico do Comitê Central de Católicos Alemães.

Em um comunicado sobre a questão, o Centro da Faculdade Boston para os Ensinamentos Judaico-Cristãos, advertiu que as antigas orações também ofendiam os muçulmanos porque pregam a conversão dos “infiéis.”

O Concílio Vaticano Segundo promoveu uma pequena revolução na postura da Igreja, dando destaque às tradicionais raízes judaicas da cristandade, afirmando o amor de Deus pelos judeus e conclamando o respeito e a cooperação diante dos outros credos religiosos.

Bento 16 aceitou permitir novamente a missa em latim em nome de pequenos grupos tradicionalistas defensores dela. Mas a divulgação do comunicado a respeito dessa decisão vem sendo adiada há meses, sem maiores explicações.

Um membro da Igreja em Roma disse que autoridades do Vaticano discutiam as objeções à retomada da missa em latim, mas não está claro se a parte polêmica das orações seria descartada ou se mudanças seriam feitas para evitar ofensas aos judeus.

Fonte: Reuters

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