Separação entre Igreja e governo é tema de manifestações que começaram neste domingo.

Para manter a separação entre Igreja e Estado, organizações seculares e religiosas estão organizando uma série de manifestações em defesa do Estado laico – a primeira acontece neste domingo, dia 21 de agosto, em São Paulo. A Marcha pelo Estado Laico surgiu em resposta a uma série de projetos de lei que visam impor a religião dentro da administração pública, e tem sido divulgada através das redes sociais. No dia 30 de agosto a marcha acontece também em Florianópolis.

Segundo o assessor de comunicação da Diocese de Joinville, padre Ivanor Macieski, a separação entre política e religião é uma das bases de quase todos os países ocidentais. “Tivemos momentos na história em que a Igreja foi o Estado, e nenhuma dessas experiências foi boa”, afirma. Segundo o sacerdote, para garantir a liberdade de credo, os governos precisam representar igualmente todas as formas de crer, assim como aqueles que não creem. “No caso de símbolos religiosos nas escolas e órgão públicos, eu sou do ponto de vista de que ou se colocam todos, ou não se coloca nenhum”, afirma o religioso, ressaltando que representar apenas uma fé exclui aqueles que não pertencem a ela.

O advogado paulista Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) é mais direto – para ele, o governo não tem respeitado sua própria laicidade. “Certos grupos recebem privilégios claros, como isenção de impostos para igrejas – e só para algumas religiões, pois várias não são oficialmente reconhecidas”, explica. No seu ver, o Estado sem perceber discrimina quem não é cristão. “E não é uma coisa sutil, temos uma frase religiosa e monoteísta nas cédulas de dinheiro, para que ninguém esqueça que este é um país cristão”, critica, referindo-se à frase “Deus seja louvado” nas cédulas do Real – o que estaria implicitamente excluindo ateus, agnósticos e politeístas. Além disso, afirma, os agentes públicos não estão preparados para lidar com abusos e discriminação por credo.

[b]Representação desigual
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Para o assessor da Diocese, qualquer tentativa de misturar a Igreja e o Estado está fadada a abusos. “Temos que respeitar e incluir todas as crenças, até quem não crê. Quando essa linha que se separa os dois é ignorada e a religião vira o poder, o resultado acaba sendo o que se vê com estados islâmicos radicais”, afirma.

“Como o Estado é para todos, ninguém deveria ser considerado digno de atenção maior”, afirma o presidente da Atea. Segundo Sottomaior, alguns grupos religiosos, por questões sectárias, pedem o fim da laicidade – “um dos valores fundamentais de qualquer Estado moderno”. Mas mesmo sem o sucesso dessas investidas, afirma, o Brasil não está sendo igualitário com questões de credo. “O que acontece é que se você não é católico, é um cidadão de segunda categoria, e, se não é cristão, cai para uma terceira”, afirma. Como exemplo maior, cita os ateus. “Nem o IBGE nos reconhece como cidadãos – tem crenças que aparecem no Censo completo com apenas seis pessoas, mas ateus são inclusos apenas como ‘sem religião’, junto com várias formas de crença, apesar de termos quatro milhões de ateus”.

[b]Fonte: Correio do Povo[/b]

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