O papa Bento XVI defendeu ontem na República Tcheca as raízes cristãs da Europa, “sem as quais não se entende o continente”, e denunciou que as feridas deixadas pelo comunismo neste país propiciaram uma mentalidade consumista e uma crise de valores humanos e religiosos.

Em seu primeiro dia em território tcheco, o pontífice fez em Praga uma veemente defesa das raízes cristãs da Europa em um país no qual os católicos são menos de 30% da população e os ateus, mais de 60%.

“A verdade do Evangelho é indispensável para uma sociedade próspera”, afirmou Bento XVI em sua chegada a Praga diante do presidente tcheco, Vaclav Klaus.

O pontífice ressaltou que sua visita coincide com o vigésimo aniversário da queda do comunismo e da Revolução de Veludo tcheca.

Para o papa, uma vez recuperada a liberdade, é necessário que os tchecos descubram as tradições cristãs que moldaram sua cultura.

Bento XVI fez uma defesa ainda mais forte das raízes cristãs no discurso que fez diante de Klaus, do Governo e de diplomatas no Palácio Presidencial, onde disse que a Europa é “mais que um continente” e reiterou o “insubstituível papel” do cristianismo para a formação dos europeus.

Na mesma ocasião, o papa afirmou que sem o cristianismo, não é possível entender o continente, já que a beleza de suas praças, igrejas e pontes expressam a fé.

“Seria trágico se essas belezas fossem admiradas ignorando o mistério transcendente que representam”, argumentou o pontífice.

Segundo o papa, essas raízes cristãs favoreceram o espírito de perdão, de reconciliação e de colaboração que abriu as portas, após a queda do comunismo, a uma nova era. Para ele, a Europa precisa desse espírito novamente.

“A Europa é mais do que um continente. É uma casa e a liberdade encontra seu significado mais profundo no fato de ser uma pátria espiritual. No pleno respeito da separação entre a política e a religião, reitero o insubstituível papel do cristianismo na formação das pessoas que chamam este continente de casa”, disse.

Diante de religiosos, catequistas e leigos, com os quais se reuniu na catedral de São Vito – construção reivindicada pela Igreja e que a Justiça tcheca considera como propriedade do Estado -, Bento XVI lembrou que o “longo inverno da ditadura comunista” pesa no momento de testemunhar o Evangelho.

“A sociedade ainda sofre com as feridas causadas pela ideologia atéia e, com frequência, fica fascinada com a moderna mentalidade do consumismo hedonista, com uma perigosa crise de valores humanos e religiosos e à deriva de um relativismo ético e moral”, afirmou o papa.

Diante da famosa imagem do Menino Jesus de Praga, o pontífice denunciou a violência e a exploração que atingem centenas de milhares de crianças no mundo.

O papa pediu para que as crianças recebam “o respeito devido, já que são o futuro e a esperança da humanidade”.

Aproveitando a visita do papa à igreja onde fica a imagem do Menino Jesus, foi colocado um cartaz no edifício do Ministério da Educação tcheco, que fica nas proximidades, o qual pedia a reabilitação de Jan Hus, teólogo reformista tcheco que morreu queimado em 1415 acusado de heresia.

Amanhã, Bento XVI viajará para a cidade de Brno, na região da Morávia, onde se concentra o maior número de católicos tchecos. Lá, o pontífice rezará uma missa.

Fonte: EFE

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