Nas inserções comerciais que passaram a ser veiculadas a partir desta terça-feira (19), o candidato do PRB à prefeitura do Rio, senador Marcelo Crivella (foto), aparece para avisar: “Não vou misturar política com religião. Vou ser prefeito de todas as crenças, de todas as religiões”.

A orientação da assessoria do senador, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e sobrinho de seu fundador, Edir Macedo, é a de evitar vinculações religiosas numa campanha marcada pelo posicionamento de outros candidatos, sobretudo, em relação à Igreja Católica, que reúne cerca de 60% da população carioca, segundo o IBGE.

Alessandro Molon, que foi chamado pelo pedetista Paulo Ramos de “coroinha do PT”, e costuma participar de reuniões em paróquias da cidade foi recebido pelo Cardeal Arcebispo do Rio, dom Eusébio Scheid, no dia 8 de agosto. Antes dele, Eduardo Paes (PMDB) já tinha pedido as bênçãos de dom Eusébio e de dom Eugenio Sales, arcebispo emérito, com quem o próprio Crivella já esteve, em julho.
Oficialmente, a Arquidiocese do Rio de Janeiro declara que “não possui candidatos e também não indica candidatos”, mas que vai orientar os fiéis a votarem em candidatos “comprometidos com a vida, desde a concepção até a morte natural, comprometidos com a família, comprometidos com valores religiosos sérios e comprometidos com o bem comum”, numa referência à candidata do PCdoB, Jandira Feghali, que é autora do Projeto de Lei nº 1.135/91, que permite o aborto durante qualquer fase da gestação.

Em 2006, durante sua campanha ao Senado, Feghali obteve do TRE-RJ uma ordem de busca e apreensão que lhe permitiu vasculhar a sede da Mitra Episcopal à procura de folhetos que orientariam os eleitores a não votarem nela. Na época, conseguiu ainda que o TRE intimasse o Cardeal Dom Eusébio Scheid e o bispo auxiliar Dom Dimas Lara Barbosa (hoje secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) a se absterem “de qualquer tipo de comentário ou referência político-ideológica”. Tal ação angariou a antipatia declarada do clero carioca.

“Os políticos defendem todas as idéias e com algumas dessas idéias nós não podemos concordar, por achar que não são boas para a sociedade. Não favorecem a vida, não são boas para ninguém. E em dever de consciência e de fé, nós devemos rejeitar algumas propostas e se alguns políticos só têm essas propostas, a gente rejeita também esses políticos”, respondeu dom Wilson Jönck, bispo-auxiliar do Rio. Procurada pela reportagem, Feghali prefere não comentar a questão.

“Candidatos que vão contra os valores humanos não merecem os votos de nenhum cidadão consciente”, acrescentou a Arquidiocese em nota oficial.

O voto evangélico

Além da Igreja Universal, a Assembléia de Deus decidiu apontar uma candidatura específica. No dia 6 de agosto, o presidente do Conselho Nacional de Pastores das Assembléias de Deus do Brasil, deputado federal Manoel Ferreira (PTB-RJ), declarou apoio ao peemedebista Eduardo Paes.

“Não vamos eleger um pastor para uma igreja, mas um prefeito. E o Eduardo é o mais competente para o cargo. Se eu fosse buscar um pastor, certamente seria ele (Crivella)”, disse Ferreira, numa tentativa de minimizar críticas à divisão do voto evangélico. A Assembléia de Deus reúne mais de 300 mil fiéis em todo o estado.

“O Rio é uma cidade aberta e que não aceita diferenças. Sou católico, tenho a minha fé religiosa, mas receber o apoio de uma liderança como a do pastor Manoel Ferreira é um impulso para a minha candidatura”, avaliou Paes, que descartou a existência de conflitos. “A presença do pastor Manoel Ferreira na campanha é a mensagem de que o Rio não aceita luta religiosa”, acrescentou.

“Quero tirar o Rio dessa situação com a ajuda de católicos, evangélicos, espíritas. Vou falar com todas as lideranças, não só religiosas, mas da sociedade. Falei (com dom Eugenio) das dúvidas que pairam sobre mim por ser evangélico, e ele disse que isso vai ser superado com a graça do Senhor”, declarou Crivella.

Dom Wilson também disse que não há confronto, mas criticou Crivella e a IURD: “Guerra não tem. A religião é livre, cada um adota a sua. Agora, se há guerra é o ataque constante dessa seita à Igreja Católica. Isso, a gente não pode aprovar. E seria muito ruim que alguém que ocupasse um cargo tivesse esse tipo de atitude, de ataque ou de retaliação”, declarou.

De outras eleições

A questão religiosa desponta na política fluminense desde a eleição do ex-governador Anthony Garotinho, em 1998, que calcou sua campanha a partir de rádios evangélicas distribuídas pelo interior do estado. O estado concentra 22% da população evangélica do país e, na cidade do Rio, segundo o IBGE, existem pouco mais de um milhão de evangélicos registrados. A articulação dessas denominações conseguiu formar uma “bancada evangélica” assumida: com 22 dos 70 deputados da Assembléia Legislativa. Não existe na Alerj, nem na Câmara de Vereadores, uma bancada católica.

Fonte:UOL

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