Os clérigos norte-americanos sofrem de estresse, mostram vários estudos recentes. E parte do problema, segundo observaram os pesquisadores, é que os pastores trabalham demais.

Muitos deles precisam de férias, é verdade. Mas há um problema mais fundamental que nenhum descanso e relaxamento pode ajudar a resolver: a pressão das congregações para que eles abandonem o maior chamado que uma pessoa pode receber.

A vocação religiosa é para ajudar as pessoas a crescerem espiritualmente, resistirem a seus impulsos mais baixos e adotarem comportamentos mais elevados e compassivos. Mas os fieis cada vez mais querem pastores que os acalmem e entretenham. Isso fica aparente nas poltronas de teatro e telas de projeção gigantes nas igrejas e nas viagens missionárias que envolvem mais turismo do que ouvir a população local.

Como resultado, os pastores são constantemente obrigados a escolher, à medida que tentam satisfazer a lista de desejos dos fieis em seus e-mails e correios de voz, entre os caminhos da integridade pessoal e os que trazem mais segurança no emprego. À medida que a religião se torna uma experiência de consumo, os clérigos ficam mais infelizes e sem saúde.

A tendência à religião voltada para o consumidor vem ganhando terreno há meio século. Considere que em 1955 apenas 15% dos norte-americanos diziam que não professavam mais a fé de sua infância, de acordo com uma pesquisa Gallup. Em 2008, 44% haviam mudado de afiliação religiosa pelo menos uma vez, ou as abandonado completamente, descobriu o Fórum Pew sobre Religião e Vida Pública. Os norte-americanos agora experimentam, testam e depois saem quando um líder religioso não os satisfaz por qualquer motivo.

Nessa transformação, os clérigos viram mudanças em suas incumbências. Não se espera mais que eles ofereçam conselhos morais em sessões pastorais ou que façam sermões que deixe inquietos os mais complacentes. Os líderes religiosos que dão continuidade a essas tradições ministeriais pagam caro. Há alguns anos, milhares de fieis deixaram a Igreja Woodland Hills em St. Paul, Minnesotta, e a Igreja Comunitária da Alegria em Glendale, Arizona, quando seus respectivos padres se recusaram a abençoar a agenda política preferida pela comunidade e o estilo de vida consumista.

Eu mesmo enfrentei pressões semelhantes. No começo da década de 2000, o comitê de aconselhamento de minha pequena congregação em Massachusetts disse para eu restringir meus sermões a dez minutos, contar histórias engraçadas e deixar as pessoas se sentindo bem consigo mesmas. A mensagem por trás dessas instruções era clara: “faça a apresentação reconfortante e divertida que queremos ou buscaremos outro líder espiritual”.

As congregações que fazem esse tipo de demanda não parecem perceber que a maioria dos clérigos não assinaram um contrato para serem videntes do futuro ou apresentadores de TV. Os pastores acreditam que são chamados para transformar para melhor as vidas das pessoas, e que isso envolve ajudá-las a aprender o que é certo na vida, mesmo quando o certo também é difícil. Quando eles são fieis a esse chamado, os pastores incentivam os cristãos a fazerem o trabalho duro da reconciliação com os outros antes de receber a comunhão. Eles orientam as pessoas a compartilhar do sofrimento alheio, incluindo pessoas que elas prefeririam ignorar, experimentando circunstâncias difíceis – digamos, num abrigo, numa prisão ou num asilo – e buscando alívio para aqueles que precisam. Quando são mais corajosos, os clérigos orientam as pessoas para onde elas não querem ir, porque é assim as preocupações delas se expandem, e é assim que uma comunidade espiritual se forma.

O ministério é uma profissão na qual as maiores recompensas são o sentido de vida e a integridade. Quando isso desaparece sob a pressão dos fieis que não querem ser desafiados ou edificados, os pastores se tornam candidatos para o estresse e a depressão.

O clérigo precisa de fieis que entendam que a igreja existe, como sempre existiu, para salvar almas elevando os valores e desejos das pessoas. Eles precisam de fieis que peçam desafios pessoais, em áreas como a devoção diária e serviços comunitários.

Quando uma ética como esta se enraíza, como acontecia antigamente, os pastores então deixam de se sentir como uma espécie de “recepcionistas” espirituais. Eles reencontram a alegria ao pregar entre pessoas que compartilham seu sentido de propósito. Eles podem até mesmo reacender o fogo de seu chamado, em vez de trilharem um caminho em que são consumidos pelo estresse prematuro.

[i]Texto escrito por G. Jefrrey MacDonald: ministro da Igreja Unida de Cristo, autor de “Thieves in the Temple: The Cristian Church and the Selling of the American Soul” (algo como “Ladrões no Templo: A Igreja Cristã e a Venda da Alma Americana”)[/i]

[b]Fonte: The New York Times[/b]

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