A eleição de Barack Obama como o primeiro presidente negro dos Estados Unidos foi saudada com uma explosão de alegria pelos afro-americanos, mas uma igualdade racial de fato ainda parece distante da realidade do país.

A vitória de Obama é “um acontecimento histórico para derrubar as barreiras raciais nos Estados Unidos”, estima Conrad Worrill, co-fundador do movimento National Black United Front (Frente Nacional Unida Negra) e professor da Northeastern Illinois University.

Falta saber ainda, no entanto, se “este momento da história nos levará realmente a mudar nossa atitude e a maneira como nos comportamos uns com os outros”.

O professor afirma que cabe à comunidade negra extingüir as conseqüências sociais herdadas da escravidão e da segregação.

“Esta vitória não constitui, em si mesma, a mudança que esperamos”, advertiu o próprio Barack Obama no discurso que fez na noite da eleição.

A mudança “não poderá acontecer se deixarmos as coisas como têm sido até agora. Não poderá acontecer sem vocês”, insistiu Obama, diante das 240.000 pessoas que se reuniram em Chicago para ouvi-lo e comemorar sua vitória nas urnas.

Para Ron Hilson, morador negro de Chicago, esta eleição serve como fonte de esperança, mas apenas se a comunidade negra conservar o otimismo.

“Espero que isso perdure além de hoje, de amanhã e da semana que vem”, disse Hilson à AFP, afirmando ser testemunha, em sua comunidade, dos danos provocados pela droga e pelas gangues de rua, além do sucateamento das escolas, depois que os brancos se mudaram para os subúrbios.

Ainda que seja verdade que cada um deve fazer um esforço para mudar sua própria vida e comunidade, é necessário atacar os problemas estruturais, indica por sua vez Mark Sawyer, do Centro de Estudos Raciais, Étnicos e Políticos da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).

A questão fundamental é ver se Barack Obama “conseguirá estabelecer uma política que possa responder aos imensos problemas de desigualdade” que existem, disse Sawyer à AFP.

O risco da presidência de Obama é, paradoxalmente, o fato de que sua chegada ao poder nos Estados Unidos corre o risco de ocultar a persistência da desigualdade racial, destacou James Rucker, fundador do grupo de defesa dos direitos cívicos Color of Change (Cor da Mudança).

“Agora que temos um negro no posto mais alto e mais simbólico, acho que para muitos americanos brancos parecerá que os americanos negros têm menos razões para protestar”, explicou.

“O problema é que continua havendo discriminação dentro das casas e na educação; há crimes racistas e uma alta porcentagem dos presidiários do país é de negros. Tudo isso não desaparece por causa de uma eleição”, estima Rucker.

“O tema, agora, já não é o racismo na forma de um homem usando um capuz branco (símbolo da organização racista Klu Klux Klan). O tema são as desigualdades e a chegada de um mudança pela qual votamos”, resumiu o pastor Al Sharpton, uma das mais conhecidas caras do movimento pelos direitos cívicos nos Estados Unidos.

“Com um Congresso solidamente democrata e um presidente negro, se não aprovarmos as leis para reparar o sistema educacional e o sistema penitenciário, seremos simplesmente incompetentes”, concluiu Sharpton.

Fonte: AFP

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