O Papa Bento XVI fez neste sábado, 22, uma nova aproximação com a Igreja Ortodoxa Russa, que acusa o Vaticano de proselitismo, ao designar um italiano para dirigir a comunidade católica da Rússia.

“Com esta nomeação, o Vaticano quer demonstrar que está disposto a abrir uma nova página nas relações entre as duas Igrejas”, afirmou o teólogo Aleksandr Dugin ao jornal “Kommersant”.

Paolo Pecci, que era reitor do seminário de São Petersburgo, foi escolhido para liderar a Igreja Católica russa, que possui 600 mil fiéis, mas que se encontra em minoria frente a ortodoxos, muçulmanos e judeus.

O sacerdote italiano ficará encarregado de criar as condições para a realização de um encontro em território neutro entre Bento XVI e o Patriarca da Igreja Ortodoxa, Alexei II, e uma futura visita do Pontífice a território russo, sonho que João Paulo II não conseguiu concretizar.

Pecci, de 45 anos, substitui o arcebispo de Moscou, Tadeusz Kondrusiewicz, de 61, que chegou à capital russa meses antes da dissolução da União Soviética, em 1991, quando existia apenas uma paróquia no local.

“Kondrusiewicz era uma pedra no caminho da cooperação”, disse Dugin.

O próprio Vaticano reconheceu em comunicado, no entanto, que o bielo-russo Kondrusiewicz, de origem polonesa, como a maioria dos sacerdotes católicos na Rússia, reconstruiu das cinzas a comunidade católica do país.

Bento XVI enviou o até agora arcebispo de Moscou para Belarus, para onde ele já havia sido designado no fim dos anos 80. O catolicismo é a segunda religião principal deste país.

“Hoje, já não é hora de se atirarem pedras, mas de apanhá-las.

Devemos responder juntos aos desafios de nosso tempo, que são terríveis, e é difícil enfrentá-los sozinho”, disse Kondrusiewicz.

O arcebispo, que reconheceu as “dificuldades do diálogo com a Igreja Ortodoxa”, ressaltou que deixa os católicos russos em boas mãos e descreveu seu sucessor como “um homem preparado e digno”, com um grande domínio da língua russa.

Pecci, que só assumirá o cargo no dia 27 de outubro, tem um grande conhecimento da situação da comunidade católica na Rússia, já que trabalhou como padre durante cinco anos em Novosibirsk, na Sibéria.

O porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa, Vsevolod Chaplin, afirmou que a nomeação de um novo chefe dos católicos russos era “um assunto interno” do Vaticano.

Segundo as imprensas russa e vaticana, a origem polonesa de muitos dos representantes católicos na Rússia sempre foi um obstáculo para que as duas igrejas chegassem a um entendimento.

O Patriarca Alexei II acusou a Igreja Católica de proselitismo em território russo e em outros países eslavos que pertencem à tradicional área de influência da Igreja russa, o que Kondrusiewicz qualificou de “sem sentido”.

Especificamente, o chefe da Igreja Ortodoxa russa denunciou a expansão em direção ao Leste Europeu da Igreja Católica de rito oriental (criada em 1595), conhecida como Uniata e a qual João Paulo II não conseguiu transformar em Patriarcado devido à oposição dos ortodoxos russos.

Em 2002, a Igreja Ortodoxa expulsou cinco sacerdotes católicos depois que João Paulo II decidiu reorganizar a estrutura da Igreja Católica na Rússia, com a criação de quatro dioceses.

Apesar disso, as relações entre as duas Igrejas melhoraram sensivelmente desde a eleição de Bento XVI, cuja atitude conservadora em matéria de moral religiosa foi elogiada pelo Patriarca russo.

O próprio Kondrusiewicz reconheceu que, desde que o atual Papa assumiu o cargo, em abril de 2005, após a morte de João Paulo II, as relações melhoraram “substancialmente”.

Sobre uma possível reunião com o Pontífice, o Patriarca russo sustenta que não encontrará o Papa até que os atuais problemas sejam resolvidos.

Em março deste ano ocorreu o primeiro encontro entre o presidente russo, Vladimir Putin, e Bento XVI, o que gerou grandes expectativas nos católicos russos.

No entanto, da mesma forma que em seus dois encontros com João Paulo II, e ao contrário do que fizeram seus antecessores no Kremlin, Mikhail Gorbachov e Boris Yeltsin, Putin não convidou o Papa para visitar Moscou.

O presidente russo foi um dos poucos chefes de Estado que não compareceram ao enterro de João Paulo II, considerado um dos responsáveis pela queda da URSS e do Comunismo, para a qual contribuiu desde que foi eleito, em 1978.

Ao contrário da China, que também não pôde ser visitada por João Paulo II, a Rússia mantém relações diplomáticas com o Vaticano.

Fonte: EFE

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