A arquidiocese da Alemanha, liderada pelo futuro papa Bento XVI, ignorou repetidos avisos para afastar do trabalho com crianças o padre acusado de abusar sexualmente de diversos garotos, disse o psiquiatra que tratou do religioso em entrevista ao “New York Times” nesta quinta-feira (18).

“Eu disse ‘Pelo amor de Deus, ele deve ser afastado imeditamente do trabalho com crianças’”, disse o psiquiatra Werner Huth ao jornal. Segundo o psiquiatra, ele estabeleceu condições para continuar o tratamento com o padre P.H.: que ele fosse afastado do trabalho com jovens e do álcool e que fosse supervisionado por outro padre 24 horas por dia.

Huth disse que os advertiu a igreja de forma explícita, pessoalmente e por escrito, antes que o atual papa, então arcebispo Joseph Ratzinger, deixasse a Alemanha para ir ao Vaticano, em 1982. Em 1980, após diversas queixas de abuso por pais em Essen, Ratzinger decidiu transferir o padre para tratamento em Munique.

Apesar dos avisos do psiquiatra, o padre H. retornou ao trabalho paroquial logo após de iniciar o tratamento, onde lidava com crianças e adultos. Ele foi formalmente acusado de molestar garotos e condenado em 1986 por abuso sexual na Bavária.

O psiquiatra disse que ele não avisou diretamente o então arcebispo Ratzinger e não saberia dizer se o papa foi avisado das suas denúncias. Huth, no entanto, disse ter chamado a atenção de vários líderes da Igreja, como o então bispo Heinrich Graf von Soden-Fraunhofen, que morreu em 2000.

Carta pastoral

A imprensa alemã vem pressionando para que o papa Bento XVI se pronuncie sobre os escândalos de pedofilia e o acusam de terhospedado o padre na diocese de Munique quando ele já tinha antecedentes de abusos a menores.

O escândalo veio somar-se a um relatório oficial que concluiu, em novembro passado, após três anos de investigações, que os mais altos membros da arquidiocese de Dublin protegeram os autores dos abusos e não os entregaram à polícia durante mais de três décadas.

O Vaticano divulgará no próximo sábado (20) uma “Carta Pastoral” do papa aos irlandeses, o primeiro documento escrito por um papa sobre a pedofilia.

Em sua audiência geral das quartas-feiras na Praça de São Pedro, falando em inglês, o Papa Bento XVI se disse profundamente preocupado com os escândalos que abalam a Igreja.

Segundo ele, a Igreja irlandesa foi “severamente abalada” pela crise pelo que “peço para que todos leiam a carta que estou enviando ao país com o coração aberto e o espírito da fé. Minha esperança é de que ela ajudará no arrependimento, na cura e na renovação”, afirmou.

Fonte: G1

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