Ao menos 40 pessoas morreram em dois atentados contra igrejas católicas na Nigéria no domingo, em ataques reivindicados pela seita islâmica Boko Haram, que promete mais ações.

O ataque mais mortífero, onde mais de 20 pessoas morreram, aconteceu com a detonação de uma bomba, no final da missa, do lado de fora da igreja católica Santa Teresa, em Madalla, nos arredores da capital federal da Nigéria, Abuja.

Mais tarde, um segundo atentado atingiu a igreja evangélica Mountain of Fire, na cidade central de Jos, um dos locais onde a violência tem sido mais acentuada na Nigéria, e matou pelo menos um policial, segundo declarações de autoridades à agência de notícias AFP.

Mais duas explosões foram sentidas em Damaturu, sem fazer vítimas, e na noite anterior uma outra detonação ocorreu numa igreja em Gadaka. As duas localidades estão situadas no nordeste do país africano.

O porta-voz do Boko Haram, Abul Qaqa, disse por telefone à AFP que o movimento, que deseja a criação de um estado islâmico na Nigéria, assume a autoria de todos os ataques dos últimos dias, incluindo o da igreja de Madalla. “Continuaremos a lançar ataques nos próximos dias”, ameaçou.

[b]ISLÂMICOS FANÁTICOS
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Já faz tempo que o Boko Haram espalha um rastro de sangue pela Nigéria. O grupo com características de seita iniciou sua luta declarada contra o Estado há dois anos. Em 2009, um grupo de fundamentalistas armados até os dentes se envolveu ao longo de semanas em confrontos com o Exército nigeriano em Maiduguri.

Ao todo 800 pessoas foram mortas no norte do país durante a repressão, e a polícia executou os líderes da seita. Desde então, o Boko Haram busca vingança, jogando bombas contra instalações militares, em bares e igrejas, e em agosto passado até mesmo contra a sede das Nações Unidas em Abuja, quando morreram 24 pessoas.

Apesar de todas as declarações em que assume a autoria de atentados, pouco se sabe sobre esse grupo de islâmicos fanáticos, e seus objetivos são contraditórios. Certo é que o Boko Haram quer impor a lei da charia em toda a Nigéria.

“O Boko Haram é um movimento de jovens muçulmanos que podemos qualificar de extremistas. Eles rejeitam a educação ocidental. A radicalização está fortemente relacionada à má situação econômica. O Boko Haram se tornou um ponto de união de jovens sem educação e sem trabalho”, diz o ativista Hussaini Abdou, da ONG Action Aid Nigeria.

[b]POBREZA E VIOLÊNCIA
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Segundo o professor de política Harouna Yerima, da Universidade nigeriana de Maiduguri, é fácil para o Boko Haram recrutar jovens fanáticos. O fenômeno Boko Haram é uma prova do fracasso dos políticos locais, afirma. A riqueza petrolífera do país não chega até a população.

“A pobreza se espalhou profundamente entre a população. Muitas pessoas não têm trabalho, não sabem ler nem escrever, e a corrupção é simplesmente impressionante. A situação é tão ruim que não é nenhuma surpresa que grupos como o Boko Haram surjam e tenham influência”, diz.

Mas o movimento, que também se intitula Irmandade Sunita na Condução da Guerra Santa, é mais do que apenas uma válvula de escape para a frustração social. Os ataques estão se tornando cada vez mais profissionais, e ataques suicidas com carros-bomba são cada vez mais comuns.

[b]CONEXÃO COM A AL QAEDA
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Para o especialista em terrorismo Mathieu Guidère, os ataques trazem a marca da Al Qaeda. “Entre o Boko Haram e a Al Qaeda no Magreb Islâmico há relações evidentes. Há provas de vários encontros entre Abdelmalek Droukdal, chefe da Al Qaeda no Magreb Islâmico, e os líderes do Boko Haram. Droukdal prometeu dinheiro, armas e formação aos extremistas nigerianos, e isso foi em 2010”, afirma.

Segundo o Wall Street Journal, que cita documentos do serviço secreto nigeriano, membros do Boko Haram foram treinados em campos de formação de terroristas no Afeganistão. Com os salafistas da Argélia e da Mauritânia eles teriam aprendido a produzir bombas. E haveria provas de contato entre o Boko Haram e o grupo fundamentalista islâmico Al Shabaab, também ligado à Al Qaeda.

O governo da Nigéria parece impotente diante da situação. O novo presidente, Goodluck Jonathan, até agora não conseguiu impor a paz com reformas políticas e econômicas. O país não tem uma receita eficaz contra o terrorismo: os militantes islâmicos não se vendem por dinheiro, e pelos meios militares não se conseguiu vencê-los. Para muitos especialistas, o próximo ataque do Boko Haram é só uma questão de tempo.

[b]Fonte: Folha.com[/b]

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