A visita do Papa Bento 16 ao Brasil, entre 9 e 13 de maio, gera grande ansiedade entre católicos progressistas brasileiros, que afirmam temer que o discurso do Pontífice contribua para uma maior perda de fiéis no país, afirmou o teólogo brasileiro Leonardo Boff, autor da Teologia da Libertação, doutrina que mistura marxismo e catolicismo.

“Todos estamos ansiosos para saber qual será a mensagem central do novo papa”, afirmou à Agência Lusa o teólogo Leonardo Boff.

“Tememos que o discurso (do papa) enquadre a vitalidade da Igreja em suas bases, no sentido de que a Igreja se construa para dentro de si mesma, reforçando seu caráter institucional”, disse.

Boff salientou que esse tipo de discurso não conseguirá “fazer frente à emigração anual de milhares de católicos rumo a igrejas carismáticas populares”, um dos principais desafios do catolicismo no Brasil.

O teólogo defende a aproximação do discurso da Igreja Católica “da vida do povo, deixando que o povo, dentro da Igreja, se organize para celebrar Deus como gosta e sabe fazer”.

“Caso contrário, a Igreja continuará a perder mais e mais fiéis por culpa dela mesma, da sua inflexibilidade e incapacidade de se renovar”, acrescentou.

Boff sustenta que o atual discurso da Igreja, “com sua hierarquia e sua gama de verdades dogmáticas”, é uma das razões que a leva a instituição a perder fiéis no mundo inteiro, sobretudo no Brasil.

“Caso o papa venha como um pastor, sua visita seria um apelo para que as igrejas continuem a articular fé com vida, evangelho com justiça social, mística com política e redenção com libertação integral”, defende.

Trajetória

Nascido em 1938, e ex-frade da Igreja Católica, Leonardo Boff é teólogo, autor de mais de uma centena de livros e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Crítico da atual orientação da Igreja Católica, foi “condenado” ao silêncio pelo cardeal Josef Ratzinger, o atual Papa, então responsável pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano.

Em 1992, silenciado novamente pela Santa Sé, Boff decidiu abandonar a Ordem Franciscana e dedicar-se ao aprofundamento da Teologia da Libertação, como no clássico livro “A Águia e a Galinha” (Editora Vozes, 2000).

No dia 14 de março deste ano, Bento 16 impôs silêncio a outro expoente da Teologia da Libertação, o teólogo Jon Sobrino, nascido na Espanha e radicado há 50 anos em El Salvador.

Realidade brasileira

Atualmente, o Brasil tem cerca de 153 milhões de católicos, o que representa 83% do total da população, segundo dados oficiais.

A percentagem de católicos, entretanto, está diminuindo, com o abandono anual de cerca de 600 mil rumo a igrejas evangélicas, que duplicaram seu número de fiéis para 30 milhões nas últimas décadas.

Leonardo Boff afirma que o grande desafio da Igreja Católica é constituir-se como uma força de mobilização para superar as “profundas desigualdades sociais que estigmatizam a realidade latino-americana”.

“A África é mais pobre do que nós, mas é menos desigual. Essa desigualdade significa injustiça social, e mais grave ainda por acontecer em um continente em que as grandes maiorias são cristãs e até católicas”, afirma.

O ex-frade franciscano defende que a Igreja deve deixar para trás o “cristianismo de devoção da primeira evangelização do tempo da colônia” e assuma um “cristianismo social, como força de transformação, da sociedade latino-americana”.

“É o que pretende o cristianismo de libertação com sua correspondente Teologia da Libertação”, completou Boff.

Agenda de Bento 16

Em sua primeira viagem ao Brasil, Bento 16 participará da Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam), evento que terá a presença de 176 bispos de 35 países.

Um dos principais pontos do programa da visita de Bento 16 ao Brasil, além da abertura da Celam, será uma missa ao ar livre, na zona norte da cidade de São Paulo, para cerca de 1,5 milhão de fiéis.

Durante a missa, Bento 16 vai canonizar Frei Galvão, beatificado em 1998 pelo Papa João Paulo 2º e que se tornará o primeiro santo nascido no Brasil.

Fonte: Lusa

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