Presidente Jair Bolsonaro entre o missionário R. R. Soares e seu filho, o deputado federal David Soares, em cerimônia de celebração de 40 anos da Igreja Internacional da Graça de Deus (Foto: Carolina Antunes/PR)
Presidente Jair Bolsonaro entre o missionário R. R. Soares e seu filho, o deputado federal David Soares, em cerimônia de celebração de 40 anos da Igreja Internacional da Graça de Deus (Foto: Carolina Antunes/PR)

Funcionários da RIT (Rede Internacional de Televisão), emissora a serviço do missionário R.R. Soares, dizem ter recebido orientações para favorecer o governo de Jair Bolsonaro (PL) na programação. As informações são da Folha de S. Paulo.

Afirmam ainda os funcionários, escutar que, se Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhar o pleito, correm sério risco de ficar sem emprego. Seus superiores, segundo eles, usam a fake news de que o petista teria planos de fechar igrejas para justificar a possível demissão em massa. O canal é ligado à Igreja Internacional da Graça de Deus.

As denúncias chegaram ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e foram encaminhadas ao Ministério Público Eleitoral.

Um funcionário disse que existem orientações para dar roupagem positiva a notícias potencialmente danosas ao presidente, que tenta se reeleger com apoio de R.R. Soares e praticamente toda a liderança evangélica graúda do Brasil.

Por exemplo: os jornalistas não poderiam dizer que a gasolina aumentou pela décima vez seguida ou que a inflação está nas alturas. A informação teria que ser embalada para minimizar danos eleitorais, afirmam eles. Melhor falar que o preço da gasolina subiu após ficar três meses em estabilidade ou que a inflação desacelerou nos últimos dias, e a queda foi percebida no leite, no óleo e no arroz.

A procuradora regional do Trabalho Adriane Reis de Araújo, da Coordigualdade (Coordenadoria de Promoção da Igualdade no Trabalho), diz que a ameaça velada de desemprego caso um candidato ganhe configura assédio eleitoral.

Com sede em São Paulo, a RIT funciona como uma concessão pública concedida a partir de Dourados (MS). Em seu site, apresenta-se como uma emissora “totalmente baseada em valores cristãos”, que “sempre direcionou sua grade de programação para boas notícias através de seu núcleo jornalístico”. Segundo o mesmo texto, ela está disponível em 289 canais abertos pelo país, em operadoras de TV por assinatura e por streaming na internet.

Família e política

A família do missionário é representada pelos filhos David Soares e Marcos Soares, eleitos deputados federais pelos diretórios de São Paulo e Rio do União Brasil.

Em 2021, David, que já é parlamentar, apresentou a emenda que concedeu anistia em tributos devidos por igrejas, uma dívida bilionária. Dados da Procuradoria-Geral da Fazenda mostravam na época que a Igreja da Graça devia cerca de R$ 160 milhões.

A equipe econômica do governo havia recomendado barrar o perdão tributário. Bolsonaro afirmou, na ocasião, que era obrigado a dar o veto presidencial à proposta, pois caso contrário poderia sofrer um impeachment por desrespeitar as leis de Diretrizes Orçamentárias e Responsabilidade Fiscal. Num aceno a aliados evangélicos, ele próprio, contudo, estimulou o Congresso a derrubar seu veto, o que acabou sendo feito.

R.R. Soares é aliado de Bolsonaro e também já recepcionou, em culto, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disputa o governo de São Paulo.

Em setembro uma reportagem mostrou que a FIC (Fundação Internacional de Comunicação, braço midiático da igreja de R.R. Soares) é alvo de ação proposta pelo Ministério Público do Trabalho, que traz acusações de violência psicológica, discriminação por idade, gênero, raça e orientação sexual, imposição de padrões de beleza a funcionárias e diversas outras infrações trabalhistas.

Fonte: Folha de S. Paulo

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