O maior centro árabe de ensino superior de Israel deseja se transformar na primeira universidade do Estado judeu a dar aulas na língua do Corão, algo que gera receios entre os educadores.

Trata-se da Al Qasemi, um centro educacional situado na localidade de Baqa al Gharbiya, no “triângulo árabe” do norte de Israel, onde mora a maioria dos 1,4 milhão de palestinos com cidadania israelense dentre os 7 milhões de habitantes do Estado judeu.

“Nosso caso é realmente único em Israel. Primeiro porque, por definição e natureza, somos um centro árabe-islâmico e, segundo, porque aqui virão dar aulas professores não só muçulmanos, mas também cristãos e judeus”, disse à agência Efe o responsável de Relações Públicas da instituição, Wasim Younis.

A instituição deu seus primeiros passos em 1989 como escola de estudos islâmicos, algo que testemunha a bela mesquita junto ao centro de ensino.

Com o passar dos anos, a direção decidiu “adaptar-se ao sinal dos tempos” e abrir-se a outras matérias, explica o relações públicas. Assim, atualmente, 120 professores (20 deles judeus) dão aulas de disciplinas como literatura, matemática e pedagogia a 1.600 estudantes, 92% mulheres, sem descuidar das aulas sobre sufismo ou história do Islã.

A Al Qasemi pretende agora alcançar a maioridade educacional com a conquista da categoria de “universidade”, que permitiria expedir títulos de doutorado.

A direção apresentou um pedido neste sentido, mas tropeça em dois obstáculos principais. O primeiro é o momento. Israel não criará novas universidades nos próximos quatro anos porque sofre muito para dividir seu “ajustado” orçamento entre as oito já existentes, todas elas em localidades judias, diz à Efe um porta-voz do Conselho para a Educação Superior.

Esta medida foi aprovada em 2008, após meses de greves e manifestações estudantis contra uma proposta de aumento do custo das matrículas universitárias.

Ali Jabareen, um dos principais professores da Al Qasemi, acredita, no entanto, que o principal empecilho é “político”. “As autoridades israelenses recebem com desconfiança tudo aquilo que provém da minoria árabe” porque é palestina de origem e se identifica majoritariamente com seus irmãos de sangue em Gaza e na Cisjordânia, embora tenha cidadania israelense, destaca.

Para Younis, “aceitar-nos como universidade representaria institucionalizar a cultura palestina em Israel. E muitos políticos temem que isso quebre a identidade judaica deste Estado”.

O porta-voz do Conselho para a Educação Superior defende uma visão distinta: “Não vejo muito sentido em abrir uma universidade árabe. Acho que é melhor potenciar a presença de estudantes árabes nas universidades judaicas”. Uma “política de integração” que levou as universidades judaicas a um percentual de estudantes árabes (18%) similar ao que representa esta minoria no país, acrescenta.

“Respeitamos as universidades israelenses. De fato, eu estudei em Tel Aviv, mas temos nossa própria cultura e língua. Queremos uma universidade que ensine em árabe. É uma questão de liberdade de escolha”, disse Jabareen.

Enquanto isso, os estudantes da Al Qasemi já fazem planos para o futuro nas principais universidades de Israel.

“Claro que eu gostaria de ter uma universidade árabe, mas como ainda não existe, não me importo em ir a uma universidade hebraica. Vivemos no mesmo país e deveríamos deixar de pensar em termos de maioria e minoria (…) e começar a falar de diversidade”, afirma Naryes, que utiliza um véu, como muitas alunas do centro.

Yamina é outra que sai de longe para continuar seus estudos de literatura inglesa em Tel Aviv. Suas irmãs mais novas terão que esperar três ou quatro anos para que a Al Qasemi entre no panorama universitário israelense e então possam finalmente fazer um doutorado em sua língua natal, calcula Jabareen com esperança.

Fonte: Folha Online

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