Caciques políticos que votaram a favor da expulsão de 65 cristãos em Los Pozos – pequena cidade mexicana no Estado de Chiapas que fica a 29 quilômetros de San Cristobal – tiveram que assinar ontem, a contragosto, um acordo para deixar que os cristãos continuem a viver em suas casas.

O advogado e pastor evangélico Esdras Alonso Gonzalez disse ao Compass que os caciques compareceram à cerimônia de assinatura, mas apresentaram outros termos, com condições diferentes das que foram fechadas no acordo verbal do dia 28 fevereiro.

Esdras disse que o objetivo dos caciques e de outros católicos tradicionais (que praticam uma mistura de rituais católicos e indígenas) era exigir que os cristãos contribuíssem financeiramente com os festivais religiosos, acrescentando uma multa para os que se recusaram a contribuir no passado.

Os evangélicos se recusam a pagar e participar das festas, que incluem bebedeiras e adoração de santos, razão pela qual os oficiais da cidade decidiram expulsá-los no dia 23 de dezembro.

Segundo Esdras, os caciques queriam que os irmãos assinassem outro documento. Nos termos desse acordo, os cristãos seriam obrigados a contribuir com festivais religiosos que já aconteceram e pagariam multa por atraso. Além disso, teriam que financiar também a próxima festa, a se realizar no dia 3 de maio. “Mas o governo estadual não permitiu”, contou ele.

A assinatura do acordo com os caciques, líderes católicos de Los Pozos e chefes do município de Huistan (ao qual pertence Los Pozos) foi feita nove dias depois que católicos tradicionalistas e autoridades civis destruíram uma igreja pentecostal construída em Ollas, uma comunidade próxima a San Juan no município de Chamula.

“Eles destruíram o templo de Chamula e o governo se sentiu obrigado a manter a calma. Agora o governo estadual está comprometido. Não é de seu interesse que o problema se expanda ainda mais”, disse.

O advogado e pastor lembra ainda que o acordo com os caciques de Los Pozos estipula o restabelecimento das linhas de água e eletricidade que foram cortadas das casas onde moram famílias cristãs desde o dia 30 de janeiro.

“Os caciques assinaram o acordo, mas nós queremos que eles levem adiante e executem os termos”, disse Esdras. “Os oficiais do governo estadual também assinaram e nós vamos ver se eles vão honrá-lo. O documento deve ser respeitado”.

O acordo também prevê que as autoridades locais voltem a fornecer lenha e ajuda federal em alimentos e fertilizantes que foram desviados dos cristãos tzotzil maya nesse período.

Para Alonso, a assinatura do acordo foi um divisor de águas na execução dos direitos humanos mexicanos e abre um precedente para que a autoridade estadual impeça maiores confrontos.

Ele disse que o acordo não busca a tolerância religiosa – o que conseqüentemente atinge a fé evangélica – mas sim uma garantia constitucional de liberdade de culto. “No acordo não pedimos nada além do que já está previsto em lei”.

Financiamento de festas

Oficiais de Los Pozos e de outras cidades do México forçam os evangélicos a pagar e participar de festas tradicionais católicas, procissões e orgias com base em um argumento legal descrito na Constituição mexicana que protege os usos e costumes indígenas.

Um artigo da Constituição protege os costumes indígenas de serem destruídos pelo governo, disse Victor Raul Flota, presidente do Conselho de Advogados Cristãos de Chiapas. “Os católicos nativos falam em usos e costumes, mas num sentido totalmente diferente”, declarou.

“Presume-se que o termo se refira a linguagem ou tradições culturais, mas os caciques pensam: é nosso costume bater, lutar, raptar e aprisionar pessoas diferentes de nós’, explicou Victor.

Flota disse que a perseguição contra cristãos na pequena cidade deriva da ignorância das autoridades locais. “Eu me lembro de 2002 porque trabalhei numa comissão de direitos humanos e estava cercado por esses caciques políticos”, contou. “Nós quase chegamos ao ponto de trocar socos. Eles são completamente ignorantes”.

Nem os interesses econômicos foram dispensados. O pastor da igreja Asas de Águia em Los Pozos, Reynaldo Gomez Ton, disse que os caciques e católicos tradicionais se beneficiam com a venda de bebidas alcoólicas e outros itens usados nos festivais. “Eles não querem perder os recursos desses costumes e é isso que querem, que todos tenham uma só fé”, afirmou. “Mas se alguém aceita Cristo, deve permanecer nesta fé. Se eles amam e seguem outro deus, nos deixem livres, respeitem ambas as crenças”.

Reynaldo e sua irmã, Mercedes Gomez Ton, disseram que sua mãe morreu por causa da pressão e ameaças das autoridades locais sobre a pequena comunidade de minoria cristã.

“Eles ameaçaram nos raptar e matar”, disse Mercedez. “Eles ridicularizaram e humilharam minha mãe, ao ponto de ameaçá-la de morte”. A mãe deles estava entre as 19 pessoas presas por 24 horas depois que católicos tradicionalistas e autoridades locais destruíram sua igreja, em 2003.

“Eles não querem que deixemos os costumes deles”, disse ela. “Eles nos aprisionaram e levaram nossas coisas, as autoridades e o prefeito de Huistan não querem nos ajudar e garantir os nossos direitos porque estão do lado deles”, contou Mercedez.

Fonte: Portas Abertas

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