A Copa das Copas

Certamente existem milhares de assuntos mais importantes. A situação de Israel e a faixa de Gaza, por exemplo, certamente merece muito mais espaço do que um simples torneio de futebol. Mas Copa do Mundo só acontece a cada quatro anos. Copa do Mundo no Brasil, quando novamente? Provavelmente nunca mais, pelos menos para as próximas duas ou três gerações. Por isso achei que até cabia mais uma coluna sobre a chamada “Copa das Copas” (termo que é uma bobagem, diga-se de passagem…).

Escrevi anteriormente que o final da copa se desenhava como um final de filme Hollywoodiano ou como uma tragédia grega; bem, para o Brasil não foi nem um nem outro. A acachapante surra que levamos da Alemanha e a meia goleada que levamos da Holanda na disputa do terceiro lugar pintaram um final para a nossa seleção canarinha mais parecendo uma opera buffa ou uma tragicomédia pastelão, com direito a muitas tortas na cara. Sete contra a Alemanha e três contra a Holanda, para ser mais exato…

Nem os mais pessimistas previram que o vexame dentro de campo seria tão grande. Afinal, já estávamos na semifinal depois de 12 anos; o que mais poderia acontecer? Pois é, deu no que deu. Mas, a histórica goleada da Alemanha frente ao Brasil na semifinal ajudou a descortinar algumas diferenças interessantes. A formidável Alemanha, campeã indiscutível, formou com o tragicômico Brasil um contraponto interessante.

Futebol é visto no Brasil como algo mágico, artístico até mesmo metafísico. Na Europa e mais especificamente na Alemanha , é visto como um esporte e como um negócio. A Alemanha tenta resolver seus problemas dentro e fora de campo, de forma científica e pragmática. O Brasil sempre apela para o emocionalismo, a magia, a superstição, o improviso.

A entrevista de Felipão e seus auxiliares depois do jogo reflete ainda mais esse conceito. Ao invés de tentar explicar as más escolhas técnicas ou mesmo a ausência de uma estratégia mais efetiva, Felipão apelou para o imponderável ao dizer que houve um “apagão”. E Parreira colocou a cereja no bolo ao ler a indefectível carta de D. Luiza. Mais patético impossível.

As redes sociais tão intensas nessa copa, revelaram também que esse misticismo atingiu até mesmo o meio evangélico. Fiquei sabendo de alguns adolescentes que organizaram uma mobilização envolvendo jejum e oração para a Argentina perder a final. Absurdo, mas que reflete bem esse conceito errôneo e exagerado que temos sobre futebol e copa do mundo.

Mais triste ainda é perceber que o povo brasileiro na sua vida cotidiana age quase da mesma forma. Criamos “salvadores da pátria” e “bodes expiatórios”, “David Luizes” e “Freds” com uma facilidade imensa. Politico, por exemplo, se elege muito mais pelo misticismo, pelo carisma, pelo charme do que pelo programa de governo ou pelas propostas.

Certamente faltou humildade para Felipão e seu exército Brancaleone, em reconhecer que não jogamos mais, há muito tempo, o melhor futebol do mundo. Precisamos ter consciência disso se quisermos realmente melhorar nosso futebol e voltar a ganhar uma copa do mundo. O mesmo processo deveria acontecer também com o povo brasileiro em geral. Saber que precisamos rever nosso valores e investir tempo em coisas que tragam beneficios pessoais e para a comunidade. Ler mais, investigar e parar de se sugestionar tão facilmente. Entender que resultados positivos vem pelo esforço e não somente pelo imponderável, pelo gol de falta aos 44 do segundo tempo.

Dito isso, é preciso reconhecer que futebol de fato possui um lado místico. Futebol atrai multidões justamente por ser um esporte imprevisível, onde nem sempre o melhor time vence. Existe sempre no futebol aquela aura do milagre, do inusitado, do Davi vencendo Golias. Tanto assim que ao contrário das expectativas, o Brasil brilhou fora de campo enquanto o escrete canarinho implodia dentro das quatro linhas, do alto dos seus cinco titulos mundiais. Quem conseguiria prever que a “Copa das copas” brilhasse em termos de organização e espetáculo, mas que terminasse revelando a pior seleção brasileira de todos os tempos?

Um abraço,

Leon Neto

Comentários