Karl Marx criou o conceito de mais-valia. Este conceito é um dos pilares da teoria marxista, e está no cerne de inúmeros debates para a explicação de vários problemas sociais. A mais-valia é um conceito da sociologia, aplicável em diversas áreas, relacionado com a força do trabalho, a exploração da mão de obra assalariada, a apropriação pelo capitalista do excedente da produção do trabalhador, visando a obtenção do lucro.
Este conceito da economia política marxista aponta para uma desigualdade, tendo em vista que o valor do trabalho, ou seja, o salário do trabalhador não é transformado em valores reais, sendo compatíveis com os esforços dos trabalhadores. Isso leva a desvalorização do trabalho e, como consequência disso, temos a exploração do sistema capitalista que tem como objeto a obtenção do lucro.
Marx propõe a mais-valia com base na exploração do sistema capitalista. Sendo, assim, o trabalho e o produto produzido têm a finalidade de tornar-se mercadoria e assim gerar lucro. O trabalhador, “bombril”, mil e uma utilidades, confirma a prática da mais-valia que está pautada na exploração do trabalhador pelo patrão, a quem são endereçados todos os lucros. O enriquecimento às custas da força de trabalho da classe operária leva ao aumento das desigualdades sociais. O trabalhador alienado a esse sistema escravocrata, torna-se objeto de escravização, desumanizado e frustrado em seu desejo, é afastado do que produz. E ao trabalhador que inconformado não se submete à exploração do patrão, resta apenas uma alternativa: “a porta da rua é a serventia da casa”, conforme o ditado popular.
A função social do trabalhador, no sistema capitalista, pode sempre migrar daquele que é objeto de investimento, pelo patrão, àquele que é objeto-dejeto, ou seja, descartado por não ser compatível com as expectativas do capitalismo.
Segundo Lacan, existe uma correlação entre os conceitos de mais valia (marxista) e o de mais-de-gozar (lacaniano), o que aponta para uma subjetividade capitalista; onde o sujeito não é dono do seu gozo, sufocando o seu desejo.
As festividades do período natalino representam esse conceito marxista de mais-valia. Marx fala sobre a exploração do capitalismo, em seguida Lacan revela o que há por trás do discurso marxista da mais-valia. Lacan diz que a perda real (a valorização do trabalho) na realidade sinaliza a perda de gozo, que ele nomeia de mais-de-gozar.
O conceito lacaniano mais-de-gozar difere do gozo, pois, não corresponde ao gozo, mas à perda de gozo. Lacan conclui dizendo que a perda de gozo priva o sujeito de usufruir não apenas da sua produção, mas, acima de tudo do gozo, que a mais-valia lhe negou. O desejo do trabalhador, reprimido em sua satisfação, leva a esse sujeito (trabalhador) a uma alienação ao sistema capitalista. E nesse cenário de desigualdade social, nem papai Noel escapa ao conceito de mais-valia.
Helena Chiappetta
Este artigo foi publicado originariamente em 14 de dezembro de 2019.