“Philadelphia”, 20 anos depois

Estive na cidade de Philadelphia semana passada para um simpósio e me deu uma vontade enorme de rever o filme homônimo, produzido nos anos 90. E não é que para minha surpresa, alguns dias após minha volta, o dito cujo estava passado na televisão! Achei uma interessante coincidência e resolvi assistir ao filme mais uma vez, e ver o que mudou nesses 20 anos.

“Philadelphia”, o filme, foi lançado em 1993 e se tornou um tremendo sucesso tanto de público quanto de crítica. O filme rendeu um Oscar de melhor ator a Tom Hanks, seu primeiro, já que no ano seguinte ganharia mais um com “Forrest Gump”, e outro de melhor canção para Bruce Springsteen.

O filme ajudou a quebrar alguns paradigmas em Hollywood, numa época em que a AIDS ainda era tratada com muito preconceito e falta de informação. A trama gira em torno de um advogado gay que é demitido de um grande escritório de advocacia, após descobrirem que ele estava com AIDS. O tal advogado então tenta processar seus patrões e o único colega que aceita seu caso é um homofóbico interpretado pelo sempre brilhante Denzel Washington.

A direção de Jonathan Demme (“O Silencio dos Inocentes”) é bastante sutil e sensível, sem cair na apologia ao homossexualismo pura e simplesmente. Numa época onde evitava-se falar sobre esses temas, Demme produziu um filme corajoso e delicado ao mesmo tempo.

O núcleo da trama gira em torno dos personagens de Denzel Washington e Tom Hanks; Denzel simbolizando a sociedade em geral, quando não preconceituosa, distante e cínica, e Hanks a personificação do lado humano de uma doença terrível e um estilo de vida, na época recriminado por todos.

20 anos depois, muita coisa mudou; A AIDS não é mais vista como “epidemia do fim do mundo” ou “cancer gay”; apesar de continuar incurável, já existem tratamentos e medicamentos que podem controlar a doença de forma satisfatória. Hoje sabe-se muito mais sobre o vírus HIV e já não existe aquela estigmatização em relação aos homossexuais. Em 1993, era bem diferente; um processo de demissão como o que acontece no filme, hoje seria impensável.

O modo como o homossexualismo é visto na sociedade também mudou bastante. Hoje, poucos têm motivos para continuar “no armário” e o preconceito é cada vez menor. Tanto que a situação se inverteu e quem se posiciona contra o homossexualismo é que acaba sendo vitima de preconceito, não é Malafaia?

O grande diferencial de “Philadelphia” foi ter colocado nas telas de cinema pela primeira vez, o lado humano, pessoal da AIDS. Demme foi muito inteligente em escalar Tom Hanks no auge de sua popularidade, um ator simpático e sem estrelismos, querido por todos e heterossexual, para viver o papel do advogado gay. Hanks, em sua brilhante atuação, colocou um nó na garganta de todos, ao mostrar que homossexuais são gente como a gente, com família, amigos, medos, alegrias e frustrações.

A atuação de Hanks fez com que a sociedade da época passasse a ver os gays de outra forma, com mais compaixão, menos estereótipos. A sincera e igualmente brilhante atuação de Denzel, faz o contraponto, mostrando um advogado de porta de cadeia, machão e intolerante, que jamais perde suas convicções, mas que tem a grandeza de admitir que sua visão preconceituosa e obtusa o impedia de ver nos gays, pessoas que precisam de ajuda e compaixão.

Seria bom que nós, Cristãos, pudéssemos fazer o mesmo. Jamais mudar nossas convicções religiosas e doutrinárias, mas entender que amor ao próximo é abrangente e não se resume a quem senta no mesmo banco de igreja ou que comunga de nossa fé. “Amar o pecador e odiar o pecado”, como dizia Santo Agostinho.

Um abraço,

Leon Neto

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