A tensão e o descontentamento na comunidade islâmica da Grã-Bretanha, que reúne cerca de 1,7 milhão de pessoas, se intensificou após a operação das forças de segurança lançada na quinta-feira.

Seus líderes temem que o processo de “islamofobia” na sociedade britânica, deflagrado desde os ataques de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, seja intensificado. Eles alertam que a maneira com que as autoridades e a imprensa têm tratado a questão do terrorismo agrava o isolamento de suas comunidades, aproximando muitos jovens muçulmanos de propostas mais radicais.

O policiamento em áreas que concentram islâmicos foi reforçado desde quinta-feira. Um pequeno incêndio numa mesquita de Chester, cidade do interior da Inglaterra, está sendo investigado. Deputados islâmicos do Partido Trabalhista, do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, numa carta aberta que será publicada hoje nos jornais, afirmam que a política externa do governo britânico no Iraque e no Oriente Médio põem em risco a segurança de suas comunidades.

Tolerância

O ministro do Interior, John Reid, exortou a população britânica a enfrentar a ameaça terrorista. “Mais que nunca precisamos contar com a tolerância e determinação de todas partes de nossa comunidade a partir de agora”, disse Reid. “Isso é uma ameaça contra todos nós e devemos responder – todos nós – com solidariedade.”

Erros da polícia

Já o secretário-geral do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha, Mohammed Abdul Bari, garantiu que os muçulmanos dão apoio total aos esforços para se tentar evitar o terrorismo, mas disse que recentes ações equivocadas da polícia e o crescimento dos ataques contra alvos islâmicos no país desde os atentados de 7 de julho do ano passado “puseram distância” entre sua comunidade e as instituições públicas.

Além de matar por engano o brasileiro Jean Charles de Menezes, em julho do ano passado, a Scotland Yard empregou há dois meses 200 policiais para prender equivocadamente dois suspeitos de terrorismo no bairro de Forest Gate, em Londres. Um deles foi atingido com um tiro no ombro.

A divulgação pelo Banco da Inglaterra dos nomes de 19 dos 24 suspeitos presos quinta-feira acirrou os ânimos entre os muçulmanos, que consideram a decisão precipitada. O imã de uma mesquita do bairro de Walthamstow, zona leste de Londres onde foram presos vários suspeitos na quinta-feira, pediu a sua comunidade que mantenha a calma e ajude as autoridades, mas ressaltou: “Apesar do que está sendo dito na imprensa, é preciso lembrar que os detidos continuam sendo inocentes até que se prove que são culpados.”

Fonte: Estadão

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