Às vésperas da visita do papa Francisco ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude , o quadro da Igreja Católica no país que abriga o maior número de fiéis do mundo é de declínio.

De acordo com o último censo feito pelo IBGE em 2010, 64,6% da população se considerava católica, contra 73,6% em 2000. De forma semelhante, no México, o segundo país que mais abriga católicos, esse número caiu de 88% para 83%.

No Brasil, essa queda foi acompanhada por um aumento do número de evangélicos. Segundo o IBGE, o número de fiéis passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010.

Diferentemente da Europa, onde houve um aumento significativo de ateus e agnósticos, no Brasil percebe-se um êxodo da Igreja Católica em direção a outras formas de religião, principalmente as denominações pentecostais, que representam 60% da população evangélica.

Do ponto de vista teológico, segundo o professor Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, o sucesso das denominações pentecostais na atração de massas se explica porque essas religiões conseguiram criar uma “ponte entre o místico e o material” de maneira mais direta e concreta do que a Igreja Católica. No pentecostalismo, Deus é capaz de provocar mudanças concretas e materiais na vida do fiel caso ele se devote. Já no catolicismo, a mudança depende do indivíduo que em Deus encontra um aporte. “Para a Igreja Católica, o que muda a sociedade é o comportamento dos cristãos, a mudança não vem de Deus”, afirma.

Segundo especialistas, a Igreja Católica em toda América Latina enfrenta uma série de desafios. Um deles é combinar as necessidades do povo, como o combate à pobreza e a preocupação com os problemas sociais, ao debate sobre questões que aparecem com força no quadro político dos países, como a legalização do aborto e do casamento gay. Outro desafio é que o catolicismo deixe de ser uma religião apenas declarativa e se torne uma prática e um compromisso real entre seus fiéis.

“Quando você é apenas declarativo, você pode mudar de religião de acordo com o momento em que está vivendo, em busca de respostas mais rápidas e concretas”, afirma o padre Pedro Gilberto Gomes, professor da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos).

Para Borba, há no Brasil um fenômeno chamado “cristianismo popular”, que, em grande parte, se abriga na Igreja Católica. Tendo como figura principal Jesus Cristo, esse “cristianismo popular” é marcado por fraca influência do magistério romano e uma série de sincretismos, que não necessariamente implicam em uma fidelidade à Igreja Católica. “Na falta de outro espaço religioso onde essa religiosidade possa se manifestar, as pessoas vão para a Igreja Católica. Rapidamente, com o surgimento de novos espaços, elas abandonam o catolicismo”, explica.

[b]Grupos de religião no Brasil
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Compare o número de fiéis nas principais denominações do País entre 2000 e 2010 (valores em porcentagem)

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O chamado “cristianismo popular” se estabelece uma vez que no Brasil há forte presença de sincretismo e da influência das religiões afrobrasileiras. Os especialistas apontam para os chamados “católicos não praticantes”, que, apesar de muitas vezes se denominarem católicos, não possuem uma vida ativa dentro da Igreja.

“Muitas vezes, o reconhecimento de católico é usado socialmente. Apenas para deixar claro que não se é um agnóstico”, afirma Borba. Os especialistas concordam que esse “relativismo religioso” é um dos desafios do catolicismo no País.

[b]Impactos da visita do papa
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Neste momento de declínio no número de fiéis, a visita do papa Francisco ao país pode ter impactos consideráveis para a Igreja, ainda que não sejam imediatos. A Jornada Mundial da Juventude pode fazer com que cada católico se identifique como parte de um povo.

O fato de o novo pontífice pregar uma postura missionária e de opção pelos pobres reforça os laços com grande parte do catolicismo na América Latina, que carrega essas marcas.

“Existe um novo modo de relacionamento (com os fiéis) que o papa Francisco está tocando e com isso ele poderá realmente trazer um pouco mais de ânimo para os católicos no Brasil, que ultimamente estavam com a autoestima baixa, em muito por causa dos grandes escândalos.”, disse Gomes, em referência aos casos de abusos sexuais envolvendo padres e bispos.

As quebras de protocolo de Francisco desde o primeiro dia de pontificado, como dispensar o carro oficial do Vaticano e rezar ao lado de seus funcionários na Igreja, ao mesmo tempo em que chocaram a Europa, forjaram uma identificação com a América Latina, mais acostumada com a aproximação entre padres, bispos e fiéis.

“Ele (papa Francisco) deixou de ser identificado como papa argentino (aqui no Brasil). Ele é o papa latino-americano. Uma oposição cultural que existe entre Brasil e Argentina foi superada (por ele)”, opina Borba.

A sua vinda também reforça os preceitos do documento final da Conferência de Aparecida, realizada em 2007, e que teve como um dos redatores o atual papa, quando cardeal Jorge Mario Bergoglio. O texto, com forte mensagem evangelizadora, prega que a Igreja vá até o povo, em vez de esperar que o povo vá à Igreja. Essa mensagem tem sido marca nos discursos de papa Francisco, como por exemplo, em encontro com cardeais de março, que ele conclamou ao “encontro de novas formas de levar a evangelização para o fim do mundo”, como modo de enfrentar as grandes crises da Igreja – o avanço protestante e os escândalos de abusos sexuais.

[b]Fonte: Top News[/b]

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