A eleição do muçulmano Umaru Musa Yar’Adua, a presidente da Nigéria, no último sábado, aumentou o temor dos cristãos que sofrem perseguições no norte do país, região predominantemente islâmica.

Quando ocupou o cargo de governador do Estado de Katsina, no norte da Nigéria, Umaru Musa Yar’Adua impôs a sharia (lei islâmica) e passou por cima do sistema de concessão de permissões, impedindo a construção de igrejas e em algumas localidades, ordenando arbitrariamente o fechamento delas.

Os partidos políticos majoritários na Nigéria nomearam muçulmanos do norte como parte de um acordo extra-oficial entre líderes para alternar a presidência do país entre um candidato do sul e outro do norte.

Umaru Yar’Adua e seu principal oponente, general Muhammadu Buhari, do partido Todo o Povo da Nigéria, são ambos muçulmanos do Estado de Katsina.

As eleições, aparentemente manchadas por fraudes, marcam a primeira vez que um líder civil chega ao poder desde a independência da Inglaterra, em 1960. A democracia voltou à Nigéria com a eleição do presidente Olusegun Obasanjo, em 1999.

Olusegun Obasanjo, cristão, designou Umaru Yar’Adua, do partido Democrático do Povo, para sucedê-lo.

O reverendo Bulus Polit, da Igreja Evangélica do Oeste da África em Jos, disse ao Compass que entre os dois principais candidatos à presidência muçulmanos, Buhari era o mais linha-dura e o que trouxe os maiores problemas aos cristãos no país.

Bulus disse ainda que Umaru “foi imposto ao povo pelo presidente Obasanjo”. “Isso não é democracia e ele não será diferente. Os cristãos vão sofrer problemas de perseguição,” disse.

“A eleição presidencial deve agravar os problemas dos cristãos do norte da Nigéria. Nosso temor é que nossa liberdade de culto sofra uma erosão com um presidente muçulmano”, disse o reverendo Bulus.

Restrição da liberdade

Há sete anos, Umaru, ao lado de outros 11 governadores muçulmanos, adotou a lei islâmica no norte da Nigéria. O reverendo Canon Bala Williams, um padre anglicano da catedral São João, em Katsina, disse que a sharia está “restringindo a liberdade cristã”.

“Não estamos autorizados a adorar livremente e os lugares para culto têm sido negados para as igrejas”, disse Bala Williams. “Na área de reserva do governo, por exemplo, não é possível conseguir um espaço para fazer um culto cristão”, afirmou.

Segundo o padre anglicano, as igrejas em Katsina foram construídas há décadas, antes que a religião se tornasse um fator importante na política nigeriana.

“Muitas vezes as igrejas são ameaçadas de despejo e de realocação fora da cidade de Katsina. Isso só parou quando líderes cristãos protestaram contra a implementação dessa política”, explicou Bala.

O reverendo Bala Williams disse que a Diocese Anglicana de Katsina possui duas igrejas, uma em Charanchi e outra em Bakori, ambas construídas há três anos, mas que o então governador de Katsina e agora presidente, baniu a construção de igrejas no Estado.

“Nós temos uma igreja na cidade de Charanchi, nós a construímos, mas fomos forçados a abandoná-la”, revelou ele. O mesmo aconteceu em Bakori.

Conseqüentemente, os membros da igreja de Charanchi não têm lugar para o culto e os membros de Bakori agora precisam viajar até a cidade de Fontua para assistir a um culto anglicano.

A Igreja Anglicana de Katsina tem cerca de 2 mil membros, com dois padres locais vindos de um grupo étnico, o hausa, que é predominantemente muçulmano.

Indiferença aos cristãos

O secretário de uma escola de ensino secundário em Katsina, Alhassan Adamu, disse que o governador Umaru foi indiferente a um pedido sobre o término da construção de um santuário.

“Começamos a construir esse prédio há anos, mas o término da construção foi interrompido por causa de um decreto governamental. Nosso ministro, aqui, o reverendo Aliyu Auta, foi se encontrar com o governador Umaru Yar’Adua para tratar da questão e ele prometeu fazer algo, mas até o fim de seu mandato e até agora, nada foi feito”.

Segundo o secretário da escola, a perseguição aos cristãos está se tornando comum no Estado. Ele listou os problemas: perseguição aos convertidos do islamismo para o cristianismo, terras e espaços para culto negados, destruição de igrejas, discriminação contra cristãos no serviço público, exigência que estudantes cristãos usem trajes muçulmanos e o impedimento para que estudantes cristãos sejam admitidos em escolas públicas.

“Na cidade de Dutsima, uma de nossas igrejas foi destruída e tivemos que transferi-la para o pátio”, conta Alhassan. Mesmo assim, diz ele, a igreja recebeu ordem de encerrar os seus trabalhos.

“No ano passado, o governador do Estado e agora novo presidente da Nigéria nos disse que deslocaria todas as igrejas de Katsina. A ação acabou suspensa, mas estou certo de que essa política poderá eventualmente ser implementada”, disse Alhassan. Para ele, “é apenas uma questão de tempo para que venha a ser feito”.

Enquanto muitos líderes cristãos estão preocupados, o reverendo Nevin Mshelia disse à agência de notícias Reuters que os cristãos não devem entrar em pânico. “Não há motivo para alarde porque um presidente muçulmano razoável deve ser melhor do que um mau cristão presidente”, disse ele, que é secretário-geral da Associação Cristã da Nigéria em Maiduguri.

O reverendo Kevin Aje, bispo da Igreja Católica de Sokoto, não concorda. Ele disse ao Compass acreditar que os cristãos vão passar por mais dificuldades, especialmente no norte do país.

“Os cristãos devem se preparar e resistir para que o islamismo linha-dura não consiga se impor no país”, disse. Segundo ele, os muçulmanos, não importa se sejam da linha-dura ou de qualquer outra corrente praticada na Arábia Saudita, Iraque e Irã, não devem trazer esse comportamento impositivo para a Nigéria “por causa das pessoas daqui, que vêm de diversas origens religiosas”.

O bispo disse que o Islã deve ser praticado em uma cultura de diversidade, bem como o cristianismo. “O cristianismo encoraja seus membros a viver em paz com os outros”, reforçou o bispo de Sokoto.

Fonte: Portas Abertas

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