A decisão do 18. Concílio Geral da Igreja Metodista do Brasil, realizado em julho, de que a instituição deve deixar os organismos ecumênicos dos quais participem a Igreja Católica e as religiões não-cristãs, repercutiu intensamente no Seminário Teológico promovido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), realizado no começo de agosto em Guarulhos, São Paulo.

A Igreja Metodista é uma das fundadoras do Conselho, que completa 25 anos em 2007.

Para o presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), pastor Walter Altman, o cenário religioso no país e no mundo “torna cada vez mais urgente o esforço ecumênico”, pois “existem forças que também estão colocando pontos de interrogação sobre a sua validade e autenticidade”.

Altmann, que é também moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), disse que o episódio da decisão do Concílio metodista “é doloroso para as igrejas parceiras, que muito têm se beneficiado do testemunho e do envolvimento ecumênico da Igreja Metodista”.

O caso também “realça a importância de que, se for preciso, estabeleçamos novas linhas de diálogo entre as igrejas sobre a natureza do nosso compromisso com a unidade, conforme o desejo do próprio senhor Jesus Cristo, e que dialoguemos com franqueza fraterna sobre as divergências que temos, na busca de um entendimento possível”, agregou.

Um dos palestrantes do seminário em Guarulhos, Altmann reafirmou ter “esperança de que no futuro a Igreja Metodista possa reavaliar com serenidade a decisão tomada e o cenário religioso no país, porque certamente de nossa parte não desejamos de forma alguma um afastamento, mas uma integração, em fidelidade ao próprio Evangelho de Jesus Cristo”.

Para o padre José Bizon, assessor do setor de Ecumenismo e Diálogo Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o momento é de lamento e de tristeza. “A mim me deixou entristecido quando li que uma das razões da saída era a presença da Igreja Católica. Não haveria uma razão para isso, mas a gente compreende e aceita”, assinalou.

Bizon afirmou que desde o Concílio Vaticano II, nos anos 60, a Igreja Católica tem procurado entendimentos bilaterais com várias confissões. “Sei que no passado já se propôs à Igreja Metodista formar uma comissão bilateral, e diante da atual situação a Igreja Católica não está fechada a sentar-se com as lideranças metodistas e trabalhar no que for necessário para o melhor entendimento e para que isso ajude as nossas comunidades a colocar-se a serviço do reino de Deus pela construção da paz, da justiça e da solidariedade”, disse.

O assessor de Ecumenismo da CNBB lembrou que, também em julho, o Conselho Mundial Metodista aderiu à Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, firmada originalmente pela Igreja Católica e pela Federação Luterana Mundial em 1999.

Para o padre, cabe dar passos para que as coisas não permaneçam como estão. “Uma das virtudes do cristianismo é a esperança, e não podemos perdê-la. Esperamos que esse período, para a Igreja Metodista e para o movimento ecumênico, seja um momento de purificação, de revisão e também de retomada de algumas questões”, defendeu.

O pastor luterano Rolf Schünemann, que assumiu a presidência do CONIC com a saída do bispo metodista Adriel de Souza Maia, disse que o episódio “afeta o movimento ecumênico e levanta uma série de interrogações acerca da realidade religiosa contemporânea”.

Para o Conselho, o fato “é bastante doloroso, uma vez que a Igreja Metodista foi uma das fundadoras e vanguarda em muitos processos que envolviam as instituições eclesiásticas no cenário brasileiro”, afirmou Schünemann. O pastor assinalou que seria positiva uma reversão da decisão na continuidade do Concílio, em outubro, mas salientou que o CONIC “não tem ingerência na vida interna das igrejas-membro”.

Para a pastora Margarida Ribeiro, professora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, em São Bernardo, São Paulo, “a notícia ainda está sendo trabalhada nas comunidades”. “Houve muito impacto e ele aos poucos está chegando, de diversas maneiras”, relatou.

Especialmente no que diz respeito à participação nos órgãos ecumênicos, “estão ocorrendo esses constrangimentos de alguns membros terem que sair, mas isso não impede que possam participar como assessores ou em outras situações”, frisou. A pastora também salientou que as mãos devem continuar estendidas “nos trabalhos que envolvam atos de solidariedade, de justiça, de paz e de dignidade de vida”.

Dentro do meio ecumênico, afirmou, os metodistas contrários à decisão conciliar têm sentido “solidariedade, acolhida e possibilidade de diálogo e caminhada em conjunto, apesar de toda essa situação”. Há também um clima de expectativa, pois o Concílio Geral terá continuidade em outubro.

Fonte: ALC

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