A Justiça Federal em Cuiabá inocentou o ex-delegado de Juína, Ronaldo Antônio Osmar, acusado de envolvimento no assassinato do missionário jesuíta Vicente Cañas Costa, morto em abril de 1987, no Mato Grosso.

A sentença do júri popular foi anunciada no início da madrugada de domingo, 29 de outubro.

O júri popular inocentou Osmar por seis votos a um, mas os jurados concluíram que os ferimentos identificados no corpo de Cañas foram produzidos por terceiros e que essas lesões causaram a morte do missionário. A defesa sustentou a tese de que os legistas não conseguiram identificar a causa da morte do jesuíta e, conseqüentemente, não daria para concluir que houve assassinato.

“A experiência mostra que quando há policiais envolvidos nos julgamentos é muito difícil que se conclua pela culpa”, disse a advogada assistente da defesa, Michael Mary Nolan. O assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Paulo Machado Guimarães, declarou que o reconhecimento do crime é uma grande vitória.

A acusação, a cargo do Ministério Público Federal do Mato Grosso, deve recorrer da sentença que inocentou Ronaldo Antônio Osmar. Ouvido pelo júri, Osmar negou qualquer envolvimento com o assassinato e afirmou que não se lembrava dos fatos. O julgamento teve início na terça-feira, 24, e foi concluído a dez minutos do domingo, 29.

Amanhã começa o julgamento de José Vicente da Silva, acusado de ser um dos pistoleiros que mataram o missionário. Os julgamentos acontecem 19 anos após a ocorrência e a menos de um ano da prescrição do caso. Seis pessoas foram acusadas de envolvimento no crime. Dois deles faleceram e dois tiveram o crime prescrito por terem alcançado a idade de 70 anos.

Cañas foi morto, presume-se, em 6 de abril de 1987, no barraco em que vivia, na margem esquerda do Rio Iquê, afluente do Juruema, em terras dos Enawenê-Nawê, cravadas entre os municípios de Juína, Comodoro e Campo Novo dos Parecis, no norte do Mato Grosso. Juína fica a 750 Km da capital.

Seu corpo foi encontrado por missionários do CIMI no dia 16 de maio, cerca de 40 dias depois de morto. Ele foi assassinado porque lutava pela demarcação da terra indígena e trabalhava pela saúde desse povo. Quando contatados, os Enawenê-Nawê somavam 97 pessoas. Hoje são 430.

Vicente Cañas nasceu na Espanha, em 23 de outubro de 1939. Participou do primeiro contato com os então índios isolados Enawenê-Nawê, em 28 de julho de 1974. Foi também o principal negociador da demarcação das terras desse povo, concluída 13 anos depois, que fixou em 742 mil hectares os limites da reserva indígena. Viveu entre os índios e aprendeu seus costumes, rituais e língua.

Fonte: ALC

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