A polícia local paquistanesa declarou a morte de um jovem cristão, em maio, por suicídio, o que teoricamente não requereria nenhum tipo de investigação. No entanto, um inspetor geral, pressionado por um grupo de direitos humanos, decidiu reabrir o caso e acabou por prender dois muçulmanos, suspeitos de assassinato.

Adeel Masih, 19 anos, foi encontrado morto no dia 4 de maio em Hafizabad, no Paquistão. Seus parentes e os advogados de direitos humanos acreditam que o jovem tenha sido torturado e morto pela família de Kiran Irfan, 19 anos, uma moça com quem o jovem morto mantinha um relacionamento há um ano. A família dele considera sua morte como um “assassinato em nome da honra”.

O casamento entre homens cristãos e mulheres muçulmanas é proibido de acordo com uma interpretação severa da sharia (lei islâmica), e até contatos sociais como os dos jovens podem incitar reações violentas no Paquistão, país de maioria muçulmana com 170 milhões de seguidores da religião.

O Centro para Auxílio Legal, Assistência e Estabelecimento (CLAAS, sigla em inglês), grupo cristão de ações em defesa dos direitos humanos, apresentou o caso ao inspetor geral da província de Punjab, que determinou sua reabertura em 18 de julho. Mais tarde, o pai da jovem garota e o tio, Muhammad Riasat, foram presos. O distrito policial ainda está conduzindo as investigações.

Difícil relação com as autoridades

Membros da família de Adeel Masih contaram que, três meses atrás, quando foram registrar o ocorrido na polícia local, os policiais não cooperaram em abrir uma investigação, já que os suspeitos eram muçulmanos e a vítima era cristã.

“A polícia disse: “‘Nós vamos primeiro apurar se Adeel cometeu suicídio’, porque os culpados contaram às autoridades sobre o fato de que a garota queria seguir o cristianismo por causa de Adeel’”, disse Aneeqa Maria, da equipe da CLAAS. “A polícia estava tendenciosa e passou a protelar o assunto, já que quanto mais tempo demorasse para registrar o incidente, mais fraco ficaria o caso”.

No dia 4 de julho, a família de Adeel Masih levou o caso ao CLAAS, que recorreu ao distrito policial de Gujranwala. O caso foi levado então para o inspetor geral de Punjab, que o reabriu duas semanas depois.

Amizade culturalmente “inapropriada”

A amizade de Adeel Masih e Kiran Irfan começou há um ano. A mãe do jovem soube do relacionamento seis meses depois e aconselhou o filho a terminá-lo por causa dos perigos. Ela contou à família de Irfan sobre a amizade dos dois, considerada pelas duas famílias como culturalmente inapropriada.

A família de Irfan passou então a atormentar os pais de Masih e ameaçar o garoto de morte caso soubessem que o jovem continuava a manter contato com sua filha. Eles disseram que “não iriam permitir que um homem cristão envergonhasse o islamismo dessa maneira”, de acordo com a CLAAS.

Masih desapareceu no dia primeiro de maio, no caminho para visitar a namorada Kiran Irfan. Seu pai, Mohammed Irfan, e seus dois tios, Muhammad Amjad e Muhammad Riasat, seguiram-no. Eles teriam então raptado o garoto e jogado sua motocicleta em um canal próximo, disse um residente local.

Duas horas depois do desaparecimento do rapaz, a família de Kiran Irfan ligou para seus parentes dizendo que o jovem teria cometido o suicídio perto de um canal, há 40 quilômetros do sul de Gujranwala.

A família o procurou por dois dias com a ajuda de mergulhadores, porém não tiveram sucesso. O corpo de Masih foi encontrado pela polícia no dia 4 de maio em um canal de Hafizabad, há 50 quilômetros do oeste de Gujranwala.

De acordo com parentes de Masih, membros da família da moça mantiveram o jovem em cativeiro e torturaram-no por dois dias.

Marcas de tortura

A autópsia, obtida pelo Compass, apontou que Adeel Masih tinha ferimentos na cabeça e lesões no cérebro. Havia marcas em suas mãos e pés, indicando que ele foi amarrado.

Quando a família do rapaz cristão registrou o caso, acusando os criminosos de assassinato, seqüestro, obstrução da justiça e conspiração, a polícia não tomou nenhuma atitude.

Depois que a autópsia do corpo de Adeel Masih foi feita, de acordo com a CLAAS, a família tentou mais uma vez registrar o caso, mas os policiais disseram que iam primeiro investigar se ele havia cometido suicídio.

Até o dia 20 de maio, quase três semanas após o desaparecimento do jovem, a primeira queixa do crime ainda não havia sido registrada.

As tentativas do Compass de conversar com os oficiais do distrito policial de Gujranwala, onde a família de Masih comunicou o fato, não tiveram sucesso.

Irfan e Riasat serão acusados pela corte local por assassinato, seqüestro, obstrução da justiça e conspiração. A data do julgamento, no entanto, ainda não foi marcada.

Fonte: Portas Abertas

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