Em conversa gravada pela Polícia Federal, Ernesto Dória, do TRT, pediu ajuda a um pai-de-santo para tentar receber propinas e prejudicar inimigos. Magistrado pretendia se tornar político com ajuda da Igreja Universal, que critica as religiões afro-brasileiras.

O mais ativo intermediário no tráfico de influência entre os envolvidos na quadrilha presa pela Operação Hurricane (furacão, em inglês), o juiz do Tribunal Regional do Trabalho de Campinas (SP) Ernesto Luiz Pinto Dória foi gravado pela Polícia Federal em telefonema em que pedia ajuda a um pai-de-santo para receber propinas e prejudicar seus inimigos.

O grampo, feito com autorização da Justiça Federal do Rio, mostra Dória dizendo ao pai-de-santo que o presentearia com uma televisão no dia seguinte e, caso conseguisse receber um “pró-labore de 10 mil reais”, daria a ele mais R$ 1.000. O religioso não é identificado pela PF no diálogo, de 16 de dezembro de 2006.

“Vamos arrebentar esse Jaime, que eu quero receber esse dinheiro até sábado”, disse Dória sobre Jaime Garcia Dias, que prestava serviços à Aberj (Associação dos Bingos do Estado do Rio de Janeiro).

Um inimigo de Dória foi identificado como inspetor Botelho. “Dória diz que vai mandar por Maria Helena [mulher não identificada] os nomes de uns inimigos, inspetor Botelho, para o pai de santo colocá-los bem longe”, informa relatório.

O curioso é que Dória planejou entrar na política com a ajuda da Igreja Universal e do senador Marcelo Crivella (PR-RJ). A Universal é crítica de religiões afro-brasileiras.

Em conversa com o delegado da PF Edson Antônio de Oliveira, Dória defende a permanência no cargo do então secretário de Segurança Pública do Rio, José Roberto Precioso Júnior. Diz que tem prestígio com o então candidato e hoje governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) e promete pedir a Crivella, “homem forte de Cabral”, para interceder por Precioso.

O relatório das escutas resume a suposta intenção de Crivella em fazer do juiz vereador. “Dória diz que ele, Crivella, falou (…): “Ernestinho, você tem que se afirmar se não passar o negócio [aposentadoria aos 70 anos], você tem que sair vereador ou deputado pela nossa igreja'”.

Nas escutas, Dória se apresenta como corregedor e desembargador criminal, usando o cargo para abrir portas em questões pessoais, como na venda de terreno a um amigo.

Procurado pela Folha por meio de sua assessoria, Crivella não comentou o vínculo com Dória até a conclusão desta edição. A reportagem telefonou para Dória e foi ao prédio onde mora, mas não o achou.

Fonte: Folha de São Paulo

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