O papa Bento 16 reúne-se a partir de sexta-feira com alguns de seus ex-alunos de Teologia para um final de semana de debates sobre evolução e religião, um assunto transformado em bandeira política por cristãos conservadores dos Estados Unidos.
Bento 16, que deu aula de Teologia em quatro universidades alemãs antes de galgar postos na Igreja Católica, realiza, desde o final dos anos 1970, encontros com ex-estudantes, sem chamar atenção dos meios de comunicação.
Mas sua eleição como papa, no ano passado, e a polêmica em torno da presença da evolução como tópico de aula nas escolas dos EUA criaram um grande interesse na reunião deste ano, que acontece entre os dias 1 e 3 de setembro no Castelgandolfo, a residência de verão do pontífice, localizada perto de Roma.
Blogues de ciência e religião estão repletos de especulações sobre se o encontro acabará fazendo o Vaticano adotar uma postura mais avessa à evolução e abraçar a idéia do “Design Inteligente”, cujos defensores dizem ter provas de que o ser humano não poderia ter simplesmente evoluído.
Mas o padre Stepha Horn, um teólogo alemão encarregado de organizar o encontro do papa com 39 de seus ex-alunos, afirmou que tais boatos eram reflexo de um engano a respeito de como funcionava o “grupo de estudos” e sobre o que a Igreja Católica ensina a respeito da evolução.
“Nunca chegamos a conclusões em nosso grupo de estudos”, disse Horn à Reuters, por telefone. “Esse encontro serve como palco para uma troca aberta de idéias sem o objetivo de se chegar a qualquer conclusão”.
“Isso não tem relação nenhuma com o criacionismo”, afirmou, referindo-se à corrente de protestantes fundamentalistas segundo a qual Deus criou o mundo em seis dias, conforme descrito na Bíblia. “A teologia católica não concorda com as idéias criacionistas”.
Ataque a Darwin
A teoria da evolução de Darwin é rejeitada há muito tempo por cristãos conservadores dos EUA. Esses cristãos defendem que as escolas públicas do país, onde é proibido dar aulas de religião, voltem a ensinar a criação do mundo com base na Bíblia.
Mais recentemente, os adversários de Darwin passaram a lutar para que a tese do “Design Inteligente” seja ensinada como uma alternativa científica à evolução.
O presidente norte-americano, George W. Bush, e outros políticos conservadores são favoráveis à apresentação dessa teoria como uma alternativa à teoria da evolução.
O “movimento do Design Inteligente” não diz que o designer é Deus, mas seus adversários — entre os quais cientistas cristãos — vêem nesses esforços uma tentativa inaceitável de colocar Deus nas aulas sobre ciências, aulas essas que deveriam tratar apenas do conhecimento empírico.
A Igreja Católica aceita a evolução como uma teoria científica e não lê a história bíblica da criação como algo literal. Mas não concorda com o que chama de “evolucionismo”, a opinião de que a história da vida não tem espaço para que Deus seja seu autor mais importante.
“A possibilidade de que o Criador tenha usado a evolução como um instrumento é completamente aceitável para a fé católica”, afirmou no final de semana Christoph Schoenborn, cardeal de Viena e um dos principais participantes do encontro.
No ano passado, Schoenborn, um homem próximo de Bento 16, foi alvo de críticas devido a um artigo publicado no jornal The New York Times sugerindo que a Igreja Católica era favorável ao movimento do “Design Inteligente”.
O cardeal não defendeu essa idéia abertamente, mas concordou com a tese do movimento de que a exclusão de Deus da evolução leva a uma conclusão ideológica que não foi provada pela ciência.
Bento 16 argumenta dessa forma desde a época em que dava aulas. Em sua missa inaugural, logo depois de ser eleito, o pontífice afirmou: “Não somos um produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é resultado de um pensamento de Deus”.
Segundo Horn, Bento 16 e seus alunos, no encontro deste final de semana, se aprofundariam nessa questão. “Precisamos nos perguntar o que é realmente científico na teoria de Darwin e nos avanços mais recentes dela e o que são elementos ideológicos e especulativos”.
Fonte: Reuters