Ricardo Feltrin
Colunista do UOL
Cinco anos atrás uma pesquisa mostrou como as igrejas já haviam dominado a grade de programação da TV brasileira —tendência que começou ainda nos anos 90
Até 2016, ao menos 21% da programação de toda a TV aberta —ou 1 em cada 5 horas—, exibida em São Paulo, principal praça do mercado, eram ocupados por religiosos evangélicos e suas pregações (e pedidos de doações).
Pois em 2021 a crise econômica —que já vinha se aprofundando nos últimos anos—, somada à pandemia de coronavírus, está mudando esse panorama, e para pior, para essas instituições, segundo informa Ricardo Feltrin, colunista do UOL.
Com templos vazios, demissões em massa de funcionários e até pastores e obreiros, dívidas enormes que vão de aluguéis a salários de pastorese bispos, boa parte das igrejas evangélicas sumiu da TV aberta.
Pior: essas igrejas eram fonte de renda primária para emissoras com crise de caixa, como Band e RedeTV, entre outras.
Até a riquíssima e opulenta Igreja Universal do bispo Edir Macedo, historicamente a única compradora de horários na Record, colocou o pé no freio.
Em 2016,por exemplo, a RedeTV tinha cerca de 43% de sua grade ocupada por igrejas como a Mundial, a Universal e a Internacional da Graça.
Esse índice —de segunda a sexta— baixou para cerca de 37% este ano. Isso sem contar outros anunciantes que compram outros horários da emissora de Amílcare Dallevo e Marcelo de Carvalho.
Até cinco anos atrás a Band também tinha 20% (uma em cada cinco horas) da grade ocupada por programas evangélicos.
Hoje esse índice caiu para apenas 4%, com apenas a Igreja Internacional da Graça, de R.R. Soares. A Band mantém Igreja Universal apenas no canal 21, que está “arrendado”.
Mesmo a Record viu a presença da Universal diminuir de cerca de 21,7% da programação para 16.6% atualmente.
Uma igreja que “desapareceu” da TV aberta comercial foi a Mundial, de Valdemiro Santiago. Antes presente na Band, RedeTV e Gazeta (além do Canal 21), hoje ele está apenas em horários em emissoras ex-UHF (agora são todas digitais) e parabólicas, além da internet.
Endividado (segundo a “Veja” publicou, ele deve mais de R$ 30 milhões só em aluguéis), Valdemiro, que chegou a ser ameaçado de ter o sigilo de suas contas quebrados a pedido de credores, foi obrigado a cortar gastos, sendo que o maior deles era a compra de horas na TV aberta.
Outro pastor que reduziu sua presença na TV aberta foi Silas Malafaia, hoje confiado a apenas 30 minutos semanais na RedeTV. Por anos Silas manteve uma “parceria” com a Band.
No lugar do horário que era ocupado por igrejas as emissoras estão fazendo o que podem: a RedeTV tem apostado em reprises de sua programação diurna.
A Band também tem ocupado com reprises de programas jornalísticos e esportivos, além de um ou outro “enlatado” (programa comprado).
A Record passou a ocupar os horários com jornalismo, que está entrando bem mais cedo no ar.
Com a pandemia e templos vazios, os pastores pressionaram governos (federal e estaduais) para que colocassem as igrejas como atividades essenciais durante o atual “lockdown pandêmico”.
Nesta segunda-feira, 15, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) recebeu no Palácio do Planalto o pastor Silas Malafaia e outros líderes evangélicos.
Segundo fontes ligadas ao pastor, os evangélicos estão preocupados com os decretos municipais que veta o funcionamento das igrejas.
O tema do encontro foi debater sobre o fechamento das igrejas devido ao agravamento da pandemia, como estado de São Paulo, decretado pelo governador João Doria (PSDB) que iniciou nesta segunda-feira (15).
Fonte: Ricardo Feltrin (colunista do UOL) com alterações e acréscimos de Folha Gospel