O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, advertiu os Estados Unidos que sanções não poderiam forçar a Turquia a “recuar” após as ameaças do presidente Donald Trump pela libertação do pastor americano Andrew Brunson.
“Vocês não podem forçar a Turquia a recuar com sanções”, disse Erdogan, citado neste domingo pelo jornal Hurriyet, em seus primeiros comentários diretos desde as ameaças feitas por Trump na quinta-feira.
“Os Estados Unidos não devem esquecer que podem perder um parceiro forte e sincero como a Turquia se não mudarem de atitude”, disse o presidente turco, cujo país é membro da Otan.
“Mudar de atitude é o problema de Trump, não meu”, acrescentou ele, comparando as ameaças americanas a uma “guerra psicológica”.
A prisão do pastor Andrew Brunson, que dirigia uma igreja protestante em Esmirna, é uma das muitas questões que atormentam as relações entre Turquia e Estados Unidos, e a ameaça de sanções aumentou a tensão.
Já na quinta-feira, a presidência turca havia alertado que Washington “não alcançaria o resultado desejado ameaçando a Turquia”.
Na quarta-feira, um tribunal turco ordenou a prisão domiciliar do pastor americano, que está sendo julgado por terrorismo e espionagem.
Brunson, cujo caso aumentou a tensão nas relações entre Turquia e Estados Unidos, está preso desde outubro de 2016 e um tribunal de Esmirna (oeste da Turquia) havia ordenado sua permanência em prisão preventiva durante a última audiência do julgamento, na semana passada.
O réu, que dirigia uma pequena igreja protestante em Esmirna, pode ser sentenciado a 35 anos de prisão. Seu processo foi aberto em 16 de abril.
As autoridades turcas o acusam de agir em nome da rede do pregador Fetullah Gülen, a quem a Turquia acusa de ser o mentor do golpe fracassado de julho de 2016, mas também em nome do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Essas duas organizações são consideradas terroristas pela Turquia.
Na quinta-feira, Trump exigiu que a Turquia liberte imediatamente o pastor, alertando que está pronto para impor “grandes sanções” contra o país.
“Os Estados Unidos vão impor grandes sanções contra a Turquia pela longa detenção do pastor Andrew Brunson, um cristão formidável, homem de família e maravilhoso ser humano. Ele está sofrendo muito. Este inocente homem de fé deve ser libertado imediatamente!”, escreveu o presidente americano no Twitter.
Na sexta-feira, o Washington Post noticiou o fracasso de um acordo entre a Turquia e os Estados Unidos para a libertação de uma turca presa em Israel em troca de Brunson.
Ebru Ozkan, de 27 anos, retornou à Turquia em 16 de julho, depois de mais de um mês de detenção em Israel, sob a acusação de ajudar uma organização “terrorista”.
De acordo com Hurriyet, Erdogan disse a repórteres em sua recente viagem à África do Sul que a Turquia “nunca fez do pastor Brunson uma moeda de barganha”, indicando, no entanto, que Ancara havia procurado a ajuda de Washington para garantir o retorno de Ozkan ao seu país.
Em setembro, Erdogan havia evocado a ideia de trocar o pastor Brunson contra o clérigo Gülen, uma hipótese descartada por pelos Estados Unidos.
Fonte: Destak