O influencer Vicky Vanilla se apresenta como “sacerdote da igreja luciferiana”
O influencer Vicky Vanilla se apresenta como “sacerdote da igreja luciferiana”

O vídeo de um influencer que se intitula satanista “prevendo” a vitória de Lula no primeiro turno causou um rebuliço nas redes bolsonaristas e colocou o PT na defensiva. A campanha do ex-presidente divulgou na noite desta segunda-feira uma nota afirmando que não há “qualquer relação” entre o petista e o satanismo.

O comunicado publicado nas redes de Lula e no site oficial de sua campanha, veio à tona após um vídeo do TikTok se espalhar em grupos a favor de Jair Bolsonaro como um rastilho de pólvora.

Nele, o influencer Vicky Vanilla, que se identifica como “sacerdote da igreja luciferiana”, descreve diante de uma bandeira de Lula uma suposta união de diferentes religiões com segmentos satanistas e do ocultismo para, de alguma forma, garantir a vitória do petista no primeiro turno.

O conteúdo foi publicado na última sexta-feira no perfil de Vicky, que tem quase 1 milhão de seguidores, e começou a se espalhar em grupos bolsonaristas no Telegram já na noite de domingo, quando o segundo turno já havia sido matematicamente confirmado, com recortes e abordagens descontextualizadas. Apoiadores de Bolsonaro, em forte tom religioso, passaram a denunciar uma suposta conspiração “das trevas” contra o presidente.

A repercussão foi tão intensa ao longo da madrugada e manhã desta segunda-feira, 3, que o senador eleito Cleitinho (PSC-MG), um dos integrantes da “bancada Bolsonaro” que saiu das urnas no último domingo, gravou um vídeo para apelar aos eleitores cristãos que não compareceram ao pleito ou votaram nulo ou em branco que votem pela reeleição de Bolsonaro.

“Cristão, se levanta! Não fique em cima do muro. O Estado é laico mas mais de 90% da população é cristã”, esbravejou o mineiro. “Viraliza esse vídeo no WhatsApp, chama aquela pessoa que está em dúvida, que para presidente é Bolsonaro, o presidente é um homem temente a Deus, é um homem cristão”.

A campanha de Lula sentiu o estrago. No comunicado desta segunda, intitulado “A verdade sobre Lula e o satanismo”, a campanha lulista enfatiza que o ex-presidente é cristão (Lula é católico) e reitera que o petista “não tem pacto nem jamais conversou com o diabo”. Foi produzida, ainda, uma imagem para ser compartilhada em aplicativos de mensagem.

A campanha de Lula justificou o posicionamento oficial sobre a fake news por conta do alcance do material. “O vídeo circulou em muitos canais do Telegram e grupos de WhatsApp e comprova como os apoiadores de Bolsonaro abusam da boa-fé de das pessoas”, diz trecho da nota.

Mas era tarde. No grupo B-38, que reúne quase 60 mil pessoas, bolsonaristas orientavam seus pares a compartilharem o vídeo de Vicky nos grupos de suas igrejas e famílias a fim de desmotivar o voto no PT no segundo turno. O tom era de chamamento, como se estivessem em uma espécie de batalha final do bem contra o mal.

“Deus desmantela e destrói toda obra de feitiço arquitetada do mal contra nossa nação”, escreveu uma bolsonarista horrorizada. “Acabamos de ver um satanista falando que eles estavam este tempo todo fazendo trabalhos fortes para nos derrubar, mandou-nos para aquele lugar e falou que vamos ter que aguentá-los agora. Oremos forte, o mal e as portas do inferno não prevalecerão”, disse outra apoiadora do presidente.

No PT, há o temor de que o vídeo tenha circulado em aplicativos de mensagem entre sexta-feira e domingo, justamente na reta final antes do primeiro turno, trazendo prejuízos a Lula no eleitorado evangélico.

O segmento, que apoia majoritariamente Bolsonaro, é um dos calcanhares-de-aquiles do petista nesta eleição.

Após a repercussão, Vicky, o influencer satanista, gravou outro vídeo afirmando não votar em Lula. Ele diz ser alvo de ameaças após a divulgação de seu vídeo em grupos bolsonaristas e acusa os militantes do presidente de tirá-lo do contexto. “O vídeo está sendo espalhado como uma fake news tanto a meu respeito quanto a respeito do candidato Lula, que não tem qualquer ligação com a nossa casa espiritual”, declarou.

A disseminação do material nos grupos pró-Bolsonaro foi um sinal para que conteúdos antigos e descontextualizados envolvendo encontros de Lula com representantes de religiões afrobrasileiras, que não têm ligação com o satanismo, começassem a ser espalhados nesta segunda.

Em um deles, muito compartilhado nos grupos pró-Bolsonaro, uma mulher relata ao petista um ritual sagrado dedicado a Exu, entidade da Umbanda e do Candomblé. Na legenda, em claro sinal de intolerância religiosa, uma eleitora do presidente denunciou a comunhão de Lula com “demônios”.

Fonte: O Globo

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