Líderes religiosos reunidos em Toronto, na 16ª. Conferência Internacional sobre Aids, fizeram um apelo para que padres e pastores evitem em seus sermões retratar a doença como castigo divino, preferindo utilizar sua palavra aos fiéis como um instrumento para disseminar informações que ajudem a combater a epidemia de Aids no mundo.

– Temos que encorajar os religiosos a não usarem o termo castigo em sentido bíblico – disse o reverendo Jape Heath, secretário geral da rede africana de líderes religiosos portadores do vírus HIV.

– Utilizar esta palavra significa reforçar o ponto de vista segundo o qual Deus está punindo a Humanidade com esta doença – completou Heth.

Outras autoridades religiosas presentes ao evento foram ainda mais longe. Defenderam a tese de que certos líderes religiosos deveriam pedir desculpas por sua letargia frente à pandemia que já matou 25 milhões de pessoas no mundo:

– Devemos publicamente nos confessar e nos arrepender de nossa cumplicidade na estigmatização e marginalização de pessoas atingidas pela Aids, em particular as mulheres e as crianças – disse o bispo Mark Hanson, representante da Igreja Luterana Evangélica americana.

Representantes da Igreja Católica e líderes religiosos muçulmanos não compareceram ao debate, no qual foram fortemente criticados por militantes do combate à Aids.

– Embora não se possa dizer que os católicos e os muçulmanos fecharam completamente os olhos para a batalha contra a Aids, o fato é que suas ações nesse campo sempre colaboraram mais para o mal do que para o bem – disse o reverendo Heath.

Criada rede internacional de líderes religiosos portadores do HIV/Aids

Na Conferência Internacional Aids 2006, que está reunida em Toronto, Canadá, foi anunciada a criação de uma rede internacional de líderes religiosos portadores do vírus HIV/Aids, que terá por objetivo combater o estigma que a doença gera.

A nova rede, que leva o nome de INERELA (a sigla em inglês), teve a inspiração de uma experiência africana exitosa iniciada há quatro anos sob o nome de ANERELA (Rede Africana de Lideres Religiosos afetados pelo HIV/Aids). Hoje, ANERELA+ conta com cerca de 1,5 mil pessoas, de 13 países do continente.

O presidente e co-fundador da ANERELA+, cônego Gideon Byamugisha, disse que a versão internacional da rede terá a mesma visão da rede africana, a de “mobilizar pessoas que, depois de superarem a auto-estigmatização e a negação, podem se converter em importante recurso no movimento em prol do combate do HIV e da Aids”.

O vice-presidente da ANERELA+, pastor Christo Greyling, da Visão Mundial Internacional, explicou que a rede recebeu pedidos para ampliar o seu alcance, procedentes do Canadá ao Brasil, da Grã-Bretanha a Tailândia. Por isso nasceu INERELA, explicou.

A proposta da rede é a de equipar e comprometer os líderes religiosos que vivem com HIV, para que se mostrem abertamente como agentes de esperança e mudança em suas comunidades de fé e países, e de atuar como uma comunidade fraternal, de apoio mútuo e de capacitação de seus membros.

A tarefa de seus integrantes consiste em romper o silêncio que rodeia o tema, estimular as comunidades de fé a desenvolverem respostas para erradicar o estigma e a discriminação, e advogar por mais medidas de prevenção, cuidado e tratamento.

A coordenadora regional de ANERELA+ para a África Oriental, Patricia Sawo, mencionou que a rede tornou possível a solidariedade com os soropositivos através de diferentes religiões. A crente bahai e coordenadora da rede na África do Sul, Regina Molokomme, afirmou que desde o surgimento de ANERELA+ notou uma diminuição nas atitudes condenatórias em comunidades religiosas mais inclusivas.

Fonte: Globo Online e ALC

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