Cristãos durante culto na Igreja dos Irmãos em Kobani, na Síria. (Foto: NBC News)
Cristãos durante culto na Igreja dos Irmãos em Kobani, na Síria. (Foto: NBC News)

Quatro anos se passaram desde que os combatentes do grupo islâmico foram expulsos de Kobani, uma cidade estratégica na fronteira síria-turca, mas a interpretação violenta e radical dos militantes sobre o Islã fez com que alguns muçulmanos questionassem sua fé.

“Se o EI representa o Islã, eu não quero mais ser muçulmano. O deus deles não é o meu Deus”, disse Farhad Jasim, 23 anos, que frequenta a Igreja dos Irmãos, à NBC News.

A Igreja dos Irmãos é o primeiro local cristão construído por décadas em Kobani, uma cidade estratégica na fronteira síria-turca, no norte da província de Alepo. Há quatro anos a cidade está livre do califado dos militantes, que foram expulsos da região.

As conversões religiosas são tabus na Síria, já que as pessoas que abandonam o islamismo são banidas de suas famílias e comunidades.

“Mesmo sob o regime sírio antes da revolução, era estritamente proibido mudar a religião do Islã para o cristianismo ou outra”, disse Omar, 38 anos, que atua como administrador da igreja protestante. (Seu sobrenome não foi revelado por razões de segurança. O pastor da igreja preferiu não ser entrevistado.)

Enquanto os moradores ainda lidam com as cicatrizes deixadas pela brutalidade do EI, Omar revela que muitas pessoas em Kobani são abertas ao cristianismo.

“A maioria dos irmãos se converteram ou vieram à igreja como resultado do que o Estado Islâmico fez com eles e suas famílias”, conta Omar. “Ninguém é forçado a se converter. Nossa arma é a oração, compartilhar o espírito de amor, fraternidade e tolerância”.

Acredita-se que apenas 4,6% dos sírios sejam cristãos, de acordo com a organização Ajuda à Igreja que Sofre. A entidade católica estima que 700 mil cristãos fugiram do país desde o início da guerra civil em 2011, um êxodo que reduziu pela metade a proporção da população.

Jasim, que trabalha como mecânico, se converteu ao cristianismo no final do ano passado. Ele foi preso pelo EI por seis meses no início de 2016, depois que os militantes descobriram que ele não conhecia o ensino básico do Islã. Ele conta que foi torturado e forçado a ler o Alcorão.

“Depois que eu testemunhei a brutalidade deles com meus próprios olhos, eu comecei a ser cético sobre a minha crença”, disse Jasim.

Depois de ouvir sobre a Igreja dos Irmãos, que foi inaugurada em setembro do ano passado, Jasim decidiu fazer uma visita. “Não demorou muito para descobrir que o cristianismo era a religião que eu estava procurando”, destacou.

Mas afastar-se do Islã significava romper o relacionamento com seus pais e outros membros da família. Com lágrimas no rosto, Jasim disse que espera que seus entes queridos não apenas o perdoem por encontrar uma nova fé, mas também se rendam a Jesus.

Assim como Jasim, Firas também se afastou do Islã depois de testemunhar as atrocidades do EI. Ele se converteu ao cristianismo há cerca de seis meses.

“Os membros do EI aterrorizavam as pessoas e depois iam à mesquita para rezar a Alá”, disse Firas, 47 anos. “Depois de suas orações, eles deixavam a mesquita e aterrorizavam as pessoas novamente”.

Omar faz leitura da Bíblia na Igreja dos Irmãos em Kobani, na Síria. (Foto: NBC News)

Firas, sua esposa e suas três filhas viveram sob o domínio do EI perto de Deir ez-Zor, no leste da Síria, por dois anos. Ele conta que testemunhou civis sendo mantidos em gaiolas nas ruas, nos dias quentes de verão durante o Ramadã, porque foram pegos comendo ou bebendo — os muçulmanos devem jejuar desde o amanhecer até o pôr do sol durante o mês sagrado.

“Eu vi homens e adolescentes sendo chicoteados nas ruas porque foram pegos fumando. Eu vi cadáveres de jovens sendo jogados de prédios altos por serem gays”, relata Firas. “Este era o Islã deles”.

Firas disse que não conseguiu suportar a brutalidade que ele testemunhou no califado. “Se o céu é feito para o EI e sua crença, eu escolheria o inferno para mim, em vez de estar novamente com eles no mesmo lugar, mesmo que seja o paraíso”, afirmou.

Fonte: NBC News e Guia-me

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